Depois de dias comendo e bebendo as festas do final de ano, o
cansaço era visível. Um dia na casa da mãe, o outro na casa da sogra, depois na
casa de fulanos, ciclanos e adjacências. Abraços, comemorações,
confraternizações. Momentos especiais e importantes na vida de todos nós. Acho
que são tão bons por que são raros rápidos e intensos.
Mas a manhã seguinte é cruel. O dia comum nos espera como um general a postos na porta do quarto. Tudo tem que continuar. Hora de voltar para casa. Hora de fazer acontecer. E como a maioria, eu tinha que voltar para casa.
Mas a manhã seguinte é cruel. O dia comum nos espera como um general a postos na porta do quarto. Tudo tem que continuar. Hora de voltar para casa. Hora de fazer acontecer. E como a maioria, eu tinha que voltar para casa.
Abri a porta e tudo estava lá. No seu devido lugar. Apenas a luz
estava um pouco melhor. Talvez pela posição do sol. O dia mal começara e, para
alegria de todos, tinha sol. Andei pela casa reconhecendo cada canto. Sim, este
sempre fora o meu lugar.
Sinais de mim se apresentavam humilde e silenciosamente. Meus chinelos, meu sofá verde perto da janela, meus livros, meu computador, meu fone de ouvido companheiro de caminhada, minha xícara de café. Do lado de fora minha hortênsia azul pedia água, enquanto a azálea exibia seu esplendor. Todos eles pareciam rir para mim.
Toquei lentamente cada um deles. Minha forma de saudá-los. Abri uma a uma as janelas e portas. Deixei o sol entrar. Abri as cortinas, liguei o som, trouxe de volta o movimento.
Sinais de mim se apresentavam humilde e silenciosamente. Meus chinelos, meu sofá verde perto da janela, meus livros, meu computador, meu fone de ouvido companheiro de caminhada, minha xícara de café. Do lado de fora minha hortênsia azul pedia água, enquanto a azálea exibia seu esplendor. Todos eles pareciam rir para mim.
Toquei lentamente cada um deles. Minha forma de saudá-los. Abri uma a uma as janelas e portas. Deixei o sol entrar. Abri as cortinas, liguei o som, trouxe de volta o movimento.
Bem baixinho cantarolei todas as músicas do meu vasto repertório
enquanto varria cada canto da casa. Limpei, tirei e joguei fora tudo que não
tinha mais valor para mim ou não prestava mais. Vasos quebrados, vidros vazios,
perfumes velhos, roupas; pertences que já não pertenciam a ninguém. Certamente
servirão para outros. Era preciso esvaziar. A sala, o quarto e o meu coração.
Papéis, muitos papéis desnecessários. Contas que já não contavam mais nada. Restos de histórias, pedaços de situações inacabadas, bancos quebrados, roupas que não serviam mais. Para quê manter tudo isso ao meu redor se já não fazem parte de mim?
Cansada, me recostei no sofá e adormeci. Não sei precisar quanto tempo fiquei ali, dormindo o sono dos vazios. Quem dorme vazio, dorme muito mais. E naquela tarde eu tinha me esvaziado por completo.
Uma boa xícara de café, alguns minutos de silêncio e agora sim, eu estou pronta para começar tudo outra vez. Que venha mais um ano, que venha mais um ciclo e que dentro de nós haja espaço para alguma coisa realmente nova acontecer.
Papéis, muitos papéis desnecessários. Contas que já não contavam mais nada. Restos de histórias, pedaços de situações inacabadas, bancos quebrados, roupas que não serviam mais. Para quê manter tudo isso ao meu redor se já não fazem parte de mim?
Cansada, me recostei no sofá e adormeci. Não sei precisar quanto tempo fiquei ali, dormindo o sono dos vazios. Quem dorme vazio, dorme muito mais. E naquela tarde eu tinha me esvaziado por completo.
Uma boa xícara de café, alguns minutos de silêncio e agora sim, eu estou pronta para começar tudo outra vez. Que venha mais um ano, que venha mais um ciclo e que dentro de nós haja espaço para alguma coisa realmente nova acontecer.
Leila Rodrigues
Publicado no Jornal Agora Divinópolis
em 07/01/2014
Imagem da internet
Leila, que lindo recomeço!
ResponderExcluirNo esvaziar, lugar para o novo na nossa sempre rotina.
Adorei! Beijo
Ano novo vida nova? num caminho por inventar, então...que seja :))
ResponderExcluirbeijinho
Por vezes nos pequenos nadas encontramos a poesia da vida.
ResponderExcluirEste voltar, o arrumar de pensamentos e o começar de novo é um sinal de esperança.
Sempre brilhante! Às vezes carregamos "bagagens" desnecessárias ao longo da vida, ocupando lugar das novidades que se nos apresentam. Desapego é a palavra, mas desapego daquilo que não nos é mais útil. Desejo feliz 2014, que perdure todo o seu talento. Beijos.
ResponderExcluirLeila querida!
ResponderExcluirLindo texto, sensível e inteligente como sempre.
Esse esvaziar é necessário, e que assim seja, que consigamos preencher vazios que não provocamos,(os que a vida nos traz...), mas também os que provocamos quando fizemos uma 'limpeza' na nossa vida.
Beijos e um ótimo 2014 para vocês!
Ao passar pela net encontrei seu blog, estive a ver e ler alguma postagens é um bom blog, daqueles que gostamos de visitar, e ficar mais um pouco.
ResponderExcluirEu também tenho um blog, Peregrino E servo, se desejar fazer uma visita
Ficarei radiante se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, saiba que sempre retribuo seguido também o seu blog. Deixo os meus cumprimentos e saudações.
Sou António Batalha.