Caso de
amor e ódio
Ela voltou.
Sorrateira, silenciosa, sem muito alarde. Já faz três dias que se instalou por
aqui. Não me avisou nada, não me ligou antes, simplesmente chegou. Poderia
ter-me contactado, eu teria me preparado melhor. Ou então podia ter me enviado
uma mensagem, um e-mail. Mas não. Ela resolveu chegar de surpresa. Ela
gosta desses mistérios... Passamos três noites juntos. Cada noite um caso a
parte. Se me permite a liberdade vou relatar nossa intimidade.
Na primeira
noite ficamos no escuro. Sabe como é? Muito tempo longe... É comum preferirmos
a escuridão. Passamos muito bem. Quando o dia amanheceu eu estava um pouco
cansado, mas tomei o meu café e consegui chegar ao trabalho na hora certa.
Na segunda noite
foi um pouco diferente, preparei um filme, tomamos um chocolate quente, não foi
tão difícil assim acender a luz. E ainda tem gente que diz que a primeira noite
é inesquecível?! Eu não concordo. Prefiro a segunda, a terceira... Enfim,
prefiro quando adquiro intimidade.
Ainda naquela
segunda noite eu puxei uma conversa com ela para tentar entender essa volta
repentina e seu objetivo. Ela como sempre me disse muito pouco, apenas me
sinalizava com um sorriso de Monaliza que queria continuar comigo. E como eu a
conheço bem, achei melhor não aprofundar a discussão. Foi aí que eu a convidei
para o filme. Ela assistiu comigo, calada como sempre e depois a noite seguiu
os seus tramites previstos.
Fui para o
trabalho normalmente. Porém, à tarde, toda a minha exaustão veio a tona e eu
tive que tomar uns 20 cafezinhos e lavar o rosto 15 vezes.
Completamente
exausto voltei para casa convicto, hoje vamos ter uma conversa séria. Não posso
continuar levando esta vida. Esse relacionamento vai me consumir até a morte.
Decidido a por um fim nisso, tomei dois copos bem cheios de suco de maracujá
para me acalmar e fiquei a espera dela. Hoje temos que nos entender!
A terceira noite
foi essa que acabou de acontecer. Estou tão cansado que desconfio que as minhas
faculdades mentais estejam abaladas. Ela chegou, eu tentei conversar, pedi que
se retirasse do meu caminho, terminei o relacionamento e nada. Ela ficou ali,
parada do meu lado como se nada tivesse acontecido. De raiva, parti para o
insulto. Xinguei, esbravejei, soltei todos os cachorros em cima dela e nada. A
maldita nem se abalou!
Completamente
acabado, desprovido de minhas condições físicas de sobrevivência, parti para a
atitude crucial. Trêmulo de raiva e cansaço, disparei dois Lexotans
garganta abaixo. Enquanto aguardo o efeito desta feita, resolvi registrar estas
palavras. Caso eu não volte deste sono, vocês sabem quem é a culpada pelos meus
atos.
... Agora se me
permitem, vou para os braços do Morfeu.
Leila Rodrigues
Assinatura: Imagem da Internet
Lexotam parece uma boa solução para algo que não tem solução.
ResponderExcluirBjks doces.
Leila, és uma extraordinária contista.Gosto demais de ler teus contos e tuas crônicas.Sempre me encantas.Parabéns!
ResponderExcluirBjs Eloah
O culpado são os longos silêncios!
ResponderExcluirE ficarei aqui a imaginar... não é o que você se propôs? Deixar o desfecho pra nós? Beleza ler você, Leila! Surpreende...
ResponderExcluirBeijos!
Olá Leila, e que tudo esteja bem!
ResponderExcluirCriativa e sensível, você é e expressa deveras bem nestes teus escritos, parabéns por mais este tão intenso!
Nem sempre estamos dispostos a suportar tal companhia por tantas noites, claro que ajudas químicas também têm o seu lado ruim, mas, de qualquer maneira, noites em claro em tal companhia, é difícil!
Agradecido por tua amizade e visitas eu venho cá desejar que tenha sempre em teu viver esta felicidade intensa, um grande abraço e dizer também que indiquei você e teu blog para uma brincadeira, passa lá para ver se aceita ou não. Apenas algumas perguntas para responder, e digo desde já que qualquer que seja a tua decisão, nossa amizade continua a mesma, obrigado e divirta-se. Até mais!
Talento e criatividade são uma marca que não se apaga nas deliciosas narrativas que nos deixas!
ResponderExcluirBeijos, Leila!
AL
Bom dia, Leila. Antes de mais nada, quero dizer que estou sentindo a sua falta, esperando estar bem.
ResponderExcluirAdorei o texto, mas se ele não voltar do sono, a culpa não é dela, e sim dele, que permitiu essa situação chegar a um ponto extremo.
A ausência do diálogo, que certamente ela não queria, só fez com que ele terminasse, o que fez muito bem, mas tão somente ele é responsável por acordar ou não, as ações são dele!
Beijos na alma e paz!
Saudades!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Bom dia minha querida !
ResponderExcluirAmiga fidalga!
Estou sentindo sua falta no face...mas desejo que estejas bem ...o conto é e tem muito a ver quando decantas nas palavras...
bjs de final de semana !