terça-feira, 19 de março de 2013

Entre a cruz e o batom




Olá pessoal,

Sem muitas delongas, obrigada pela visita!
O texto desta semana é  Entre a cruz e o batom.
Neste tempo em que a ditadura da perfeição impera e que o primeiro ministro é o consumo, ser você mesma está cada dia mais difícil!
Divirtam-se e boa leitura!
Abraços a todos

Leila Rodrigues



Entre a cruz e o batom



- Que multidão de gente é essa olhando para mim? O que foi que eu fiz? Estão todos dizendo alguma coisa ao mesmo tempo!  O que é isso meu Deus? 

Deus não me respondeu nada. O jeito foi tentar reconhecer alguém. Mas nenhum rosto era conhecido. Pareciam todos frutos de uma mistura digital. O rosto da minha mãe no corpo do meu avô. O cabelo do meu pai no corpo do meu irmão. Uma loucura completa! Das duas uma, ou eu estava louca ou em um transe mais que perfeito. 

- Espera aí! O que é isso? O que é que eu estou fazendo amarrada aqui em cima e vocês todos aí embaixo gritando?

- Psiu!!! Fala baixo! Você não percebeu até agora? Você vai ser crucificada!

- O quê? Como assim? Crucificada por quê? O que foi que eu fiz?

- Como assim o que foi que você fez? Vai me dizer agora que você não sabe? Bem, na verdade é mais fácil dizer o que foi que você não fez.

- Mas então o que foi que eu não fiz que fosse tão importante? Aliás, que negócio é esse? Eu pensei que o último crucificado foi Jesus e que a turma já havia se arrependido desse feito. Desde quando voltou a moda da crucificação?

- Você está desatualizada amiga. Precisa entrar mais na internet. Agora é assim, não cumpriu as normas, entra tudo para a crucificação.

- Mas eu vou morrer?

- Não. Serão uns preguinhos mais leves, se você for forte o bastante sobreviverá.

- Tá louca? Eu não vou permitir que me crucifiquem! Quero o meu advogado!

- Que advogado amiga! Isso aqui é júri popular, não vai adiantar nada. Quem decide é o povo!

- Júri popular, então o que eu fiz foi grave mesmo? 

- O que você fez não. O que você deixou de fazer.

- Então desembucha e pelo amor de Deus me conte o que foi que eu deixei de fazer?

- Eu vou te contar, mas se alguém desconfiar que eu esteja dando atenção para você eu negarei até o fim. Não quero correr o risco de ser acusada de cúmplice.

- Fala logo mulher, eu não tenho muito tempo.

- Tá bom eu vou te dizer, mas antes  me prometa que, daqui para frente, você vai cumprir as regras! Eu não quero te ver passar por isso de novo! Amiga, você não faz academia, não faz dieta, nunca fez chapa, progressiva muito menos. Você não está colaborando com o consumo, afinal de contas seu cartão de crédito nunca estourou! Você não tem uma peça no seu guarda-roupa que nunca foi usada. Você nunca chorou antes de sair porque não tinha roupa e para complicar ainda mais, você não tem nem um pezinho de sapato qualquer que nunca foi usado. Vai me desculpar, mas até eu entrei nessa fila para te crucificar. Afinal, você passou dos limites!



Leila Rodrigues
Imagem da internet

16 comentários:

  1. kkkkk... Na moda consumista também serei crucificada... sem direito a ajuda nenhuma... Sou e basta. Quem não gostar, favor desaparecer... Meu 'consumo' é minha interiorização. Superficialidades passo longe. Abomino mesmo.
    Você elencou muito bem, em tempos de 'crucuficação'... a 'via sacra' de umas & outras tantas a favor de seguir 'a turma'. Gostei da 'cruz e do batom'.
    Bj. Célia.

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  2. Muito lindo e tenho um texto que publiquei no início da semana sobre isso, até a perua é a mesma. Estamos em sintonia,rs

    Essa ditadura é fogo!!! beijos,chica

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  3. Nos tempos modernos, a pessoa está em segundo plano.Parabéns.

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  4. Querida amiga

    Há nas palavras
    que nos fazem sentir
    o perfume da vida,
    o milagre da eternidade.

    Que os sonhos
    encham de luzes
    os teus caminhos

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  5. Folhas de Outono está aqui,para ler mais uma postagem que escreves com maestria e aproveito para parabenizar o dia do Blogueiro,então nada mais justo do que vir até aqui para parabenizá-los.
    Que continuemos, por muitos e muitos anos,
    colaborando com uma Blogosfera ética,
    sem plágio e unida.
    Um viva pra você e um viva pra todos nós !!!!

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  6. Leila,
    Um texto que nos coloca perante a realidade de uma sociedade em rápida transformação...
    Gostei!...


    Beijos,
    AL

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  7. Boa tarde, Leila. Muito bom! Ser crucificada por não seguir o consumismo exacerbado, por não seguir regras impostas pela sociedade da moda, pelo o que "eles" acreditam que deva ser feito.
    A crucificação dela é um exemplo de que não se pode ser autêntica nesse mundo em que vivemos!
    Se for para pagar o preço, que paguemos, então!
    Parabéns!
    Beijos na alma e saudades!
    Tenha um dia de paz!

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  8. Leilinha,

    Tudo bem? Amei o texto! Fiquei pensando em como os padrões de consumo nos limita ao tentar aparentar um padrão. Gostei do termo crucificação, pois é esse o fim que é dado a quem quer fugir da manada.

    Beijos.

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  9. Nossa muito bom esse texto. Uma crítica muito bem feita a sociedade atual.

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  10. Pois é Leila. A moderna “inquisição”, o Tribunal do Santo Consumo, cumprindo seu oficio. Adorei!


    Um abração.

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  11. Leila

    Um lindo texto. Ser crucificada por não seguir o padrão consumista desta sociedade. Adorei.
    Se depender de mim nenhum preguinho vai me segurar,pois até os ovos de Páscoa foram restritos.
    Mas, com baton ou sem baton, com dieta ou sem dieta
    te desejo um bom domingo de Páscoa.

    bjs.

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  12. Oi Leila, arrepiei...eu seria crucificada...ainda bem que é um conto hehehe quase real.
    Beijos
    http://marlicarmenescritora.blogspot.com.br/

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  13. É estes são os novos tempos.Não consumir é ser diferente.
    Adorei teu textos.Felicidades Eloah

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  14. Oi Leila!

    E não é exatamente assim?
    Só faltam os pregos, pois o olhar de desprezo para a distraída que não segue "o último grito da moda" não deixa dúvidas quanto ao julgamento: sentença condenatória!

    O que mais gosto é de ver sua maneira criativa e divertida de abordar esses assuntos da atualidade. Não consigo passar por aqui sem, mais uma vez, parabenizá-la por tanto talento para a escrita!

    Um grande beijo.

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