Olá pessoal,
Através do meu trabalho, tenho a
oportunidade de conviver com pessoas em várias cidades do país, inclusive as
capitais. Sempre nos demos muito bem, mas, nesta convivência, aprendi que, às
vezes é preciso deixar claro a que viemos e quais são nossos propósitos. Vida no interior vai falar sobre isso. Espero que gostem.
A foto é uma homenagem à cidade de Arcos, onde eu cresci e me tornei quem eu sou.
Este mês o Palavras faz dois anos. E na
semana que vem teremos uma postagem especial de aniversário. Convido a todos
para comemorarem comigo.
Abraços e Boa leitura!
Leila
Rodrigues
Vida no
interior
Tudo começa com
o galo cantando. É ele que anuncia o dia ainda antes do sol nascer. Depois vem
o cheiro de café coado na hora o biscoito frito e a neblina da manhã na serra. Só
quem vive aqui sabe que privilégio é esse. O rádio conta as notícias da noite.
Daqui, da redondeza e do resto do mundo. Enquanto tomo o café ouço as notícias
e verifico a agenda do dia. Depois do café começa o corre-corre.
Reuniões,
discussões, decisões e muito trabalho. Todos correm. A luta de quem vive no interior
não é menor que a da cidade grande. O que se percebe muitas vezes na nossa
convivência com quem está nos grandes centros, principalmente se este grande
centro está em outro estado, é que eles acreditam que no interior só existe
pasmaceira e que nossos neurônios trabalham na velocidade dos jegues.
Alto lá! Aqui
existe inteligência, adrenalina, correria, empenho e muita dedicação. Não é
porque eu gasto 00h15min para fazer o percurso casa-trabalho que eu tenho tempo
de sobra para dormir depois do almoço. Aqui também se planeja, executa,
monitora, entrega, solicita, compra e vende. Assim como vocês que estão do
outro lado da serra. Nossos dias são corridos como o de qualquer outro
cidadão.
Depois do
trabalho vem o inglês, o MBA, a faculdade, o esporte, o dever de casa do filho,
o grupo de estudo, a reunião, a internet... Como acontece em Xangai, Berlim ou
em São Paulo. O que nos difere é que o nosso tempo de ir e vir é bem menor,
nossos letreiros luminosos ofuscam menos nossos olhos cansados e a quantidade
de pessoas é proporcional ao PIB de nossas cidades.
Não somos
alienados, sabemos muito bem que a diferença é grande. Mas isso não significa
que a inteligência não reina em nossas cabeças. Para qualquer um que venha
negociar ou discutir conosco, preparem-se, porque vocês podem se surpreender. E
venham com conteúdo porque vocês vão precisar de muito para nos convencer de
alguma coisa.
Perdemos em
oportunidades e possibilidades, mas ganhamos em qualidade de vida. Ganhamos um
pouco mais de tempo com as pessoas que amamos, ganhamos um pouco mais de
endorfina e alguns créditos de anos na conta da vida de cada um. Perdemos
quando concorremos com os metropolitanos por estarem eles no centro do furacão,
mas ganhamos quando se avalia a coragem de competir com o adversário cada vez
mais difícil. Afinal, passamos a vida inteira tirando leite de pedra.
Lutamos para
sermos reconhecidos, lutamos para cumprirmos nossos compromissos, para entregar
nossas metas e para vencermos o desafio de crescer sem perder a nossa identidade.
Lutamos para que nossas cidades cresçam e se desenvolvam, mas também lutamos
para que nossa cultura, nossa história e nossos valores sejam
preservados.
Não queremos nos
comparar a ninguém, mas não podemos aceitar que nos diminuam pelo nosso jeito
simples de ser ou o nosso sotaque interiorano.
Pode ser que no
fim do dia, quem vive na cidade grande tenha as mais diferentes e desafiadoras
possibilidades e eu tenha apenas o cheiro doce do manacá e meu velho e bom
computador, que, diga-se de passagem, me leva aos mesmos lugares que o seu.
Leila Rodrigues
Texto publicado no Jornal Agora Divinópolis em 29/01/2013
Foto do blog: http://minas-gerais-brasil.blogspot.com.br
Maravilhosa tua crônica e deste bem a idéia, do que se passa numa cidade pequena, que tem o galo a cantar e enfeitar os dias, mas tem também todas as atividades e compromissos que as grandes apresentam. Adorei! beijos, tudo de bom e sempre um prazer te ler! chica
ResponderExcluirLeilamiga
ResponderExcluirNão venho aqui para te dizer, aliás uma vez mais... - que escreves muito bem e que tens uma imaginação que não é muito frequente em quem conta um conto. Isso é, para mim, ponto assente e...ponto final, parágrafo, na outra linha. Excelente.
Venho sobretudo para te relembrar o concurso que vem lá na nossa Travessa. Concorre já É uma ordem! rsrsrs
Qjs
Henrique
MARAVILHOSA REALIDADE!
ResponderExcluirLeila, caipira também, com muita honra e dignidade, aos dezoito anos fui para SP... Ilusão de crescer e melhorar de vida! Sim! Isso aconteceu, mas depois de 20 e tantos anos por lá, retornei ao meu bom e velho interior onde minha qualidade de vida não se compara a nenhum 'doutorado' adquirido! Parabéns pela crônica da vida real!
Bjs. Célia.
É isso Leila! Cada um com sua bagagem cultural, suas vivências e mais ainda, tendo como estilo de vida o que realmente importa.
ResponderExcluirN interior, não importa a marca da roupa, e sim estar vestido. Não importa o modelo de carro, o importante é ir e vir com a liberdade que a vida permite. E que coisa maravilhosa, no fim da tarde contemplar o dormir do sol, enquanto nos grandes centros nem sabemos se o sol já se foi...
Crônica encantadora e cheia de detalhes que me encantou.
Bjks doces!
Já vivi no interior e sei o quanto é bom.Parabéns.
ResponderExcluirLeila, belo texto, durante 5 anos trabalhei no interior, e depois meu outro trabalho me possibilitou conhecer várias cidades pequenas do Estado da Bahia. Concordo com o que diz na vida no interior, me identifiquei com esse belo texto. Parabéns pelo blog e já estou te seguindo. Abraços.Sandra
ResponderExcluirFica claro no teu belo texto, que só seremos felizes onde germinam as raízes onde, apesar de distantes, ainda permanecemos!...
ResponderExcluirBeijos,
AL
Parabéns pelo texto, mas também pelo aniversário do seu blog.
ResponderExcluirBj!
Leilinha,
ResponderExcluirTudo bem? Parabéns pela clareza e inteligência do texto!
Moro em Maceió que é uma capital, mas com distâncias pequenas. Já ouvi de várias pessoas que moram em grandes capitais que a minha vida é só praia. E aí, dou risada porque só consigo curtir praia em janeiro e olhe lá.
Enfim, há, ainda, preconceito por ser nordestina e que por sinal não existe sudestino.
Beijos.
Oi, Leila!
ResponderExcluirNa sua crônica, você fez uma descrição perfeita de uma cidade do interior.
O texto é tão delicioso que dá vontade de continuar lendo.
Um excelente fim de semana!
Quando puder, faça uma visitinha!
Beijocas!
Leila,
ResponderExcluirQue delícia de texto! Não trazendo apenas o sabor do interior, mas também a inteligência das pessoas que habitam essas cidades consideradas pacatas, mas cheias de um corre-corre que os "da cidade grande" pensam inexistir. Sou feliz por ter nascido e sido criada numa cidadezinha exatamente assim! Com o passar dos anos, vim atrás das possibilidades, mas é inquestionável o que ficou para trás em termos de qualidade de vida... uma pena não poder dar isso a meus filhos!
É rico seu texto, de dar orgulho a quem sabe bem como é a vida do outro lado da serra. Um grande beijo!
Muito bom! Uma postagem de luxo.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar. Beijo
Olá Leila, desejo que tudo permaneça bem contigo!
ResponderExcluirBelo escrito, e recheado de verdades, pois, assim é viver em qualquer lugar do mundo, e, além do que não vejo orgulho nenhum em muitas vezes parecer um autômato nos grandes centros, onde pessoas passam umas pelas outras sem sequer se olharem, cada qual preocupada com o próprio mundinho!
Agradecido por compartilhar belos escritos, que sempre expressam a tua sensibilidade e bom gosto, e também pela amizade e visitas.
Assim deixo meu desejo para que você tenha sempre em teu viver esta intensa felicidade, grande abraço e, até mais!
Muito bom poder ler seus contos! Adoro suas PALAVRAS! Parabéns pelo aniversario do seu blog que tem pouca idade mas muita história! Bjo Virgínia
ResponderExcluir