Cheguei a minha casa mais tarde que o normal.
Preocupada, corro para a cozinha, eles devem estar famintos. Assim que entrei
na cozinha, pelo tamanho da bagunça percebi que o problema da fome já havia
sido resolvido. Que ótimo!
Silêncio total na casa! Um assistindo TV, o outro no computador e o outro no videogame, que já virou Wii e depois virou Xbox e que, para mim, continua sendo videogame. Incomodada com a caverna de cada um, começo a desfiar meu terço de implicância:
- Mas assim não tem condições, essa casa parece uma casa fantasma! Ninguém conversa com ninguém, as luzes apagadas, nem velório é tão sombrio como isso aqui! Isso não está certo! Esses meninos não vão saber se socializar com ninguém! Vão virar uns alienados! Isso é que dá tanta tecnologia! O tempo todo conectados com alguém que está do lado de fora desta casa e nenhuma conexão com quem está aqui dentro!
Inconformada, ligo para a minha mãe que atende ao telefone direto do quarto dela:
- Oi filha! Deus te abençoe! Tá vendo a novela? Eu sabia! Viu que blusa linda que a Carol está usando? Vai ficar ótima em você!
Conto até dez para não enfartar e pergunto pelo meu pai.
- Seu pai? Ah ele está no quarto dele assistindo jornal. Ele segue todos os jornais de todos os canais possíveis. E o volume? Ninguém suporta! Minha filha, seu pai está cada vez mais surdo. Você quer que eu o chame?
Desliguei o telefone. Não suportei esta traição dos meus próprios pais! Eles que sempre me ensinaram a importância do diálogo, da família unida e da convivência também se corromperam.
A esta altura eu já estava exaltada! Se não tinha TPM, eu acabei de inventar uma, pois dei inicio ao xingatório. Falei, falei e falei até cansar. Depois que eu falei tudo foi como se eu tivesse me esvaziado de uma grande indigestão. Voltei às minhas palavras e senti uma tranquilidade incrível. Consegui ouvir um silencio que já estava ali e só eu não tinha percebido. Fiquei por alguns minutos ouvindo e observando aquele silêncio todo.
Coloquei minha seleção de músicas preferidas e quando dei por mim, todos estavam cantarolando em seus cantos. Meu filho mais velho trouxe as fotos que ele editou. Ficaram lindas! Para comemorar, o mais novo trouxe balas para todos. Ficamos ali um bom tempo falando de fotos, de filmes e de possibilidades. Até o casamento da vovó entrou na conversa.
Envergonhada de mim, constato que, na era da tecnologia, até o ninho mudou. Ele continua aqui e meus filhos continuam nele. Mudamos o jeito de transmitir e eles mudaram o jeito de aprender, mas ainda existe aprendizado.
Os valores continuam presentes quando eles veem o pai pagando uma conta tarde da noite pela internet porque é o dia do vencimento. O limite continua existindo, quando o computador só é liberado depois da lição de casa e bloqueado para certos sites. Os valores se apresentam quando o reality, o cigarro e música ruim, naturalmente não faz parte da escolha deles.
Constato que nem tudo está perdido, o ninho não mudou de lugar, apenas passou a ser de fibra ótica!
Silêncio total na casa! Um assistindo TV, o outro no computador e o outro no videogame, que já virou Wii e depois virou Xbox e que, para mim, continua sendo videogame. Incomodada com a caverna de cada um, começo a desfiar meu terço de implicância:
- Mas assim não tem condições, essa casa parece uma casa fantasma! Ninguém conversa com ninguém, as luzes apagadas, nem velório é tão sombrio como isso aqui! Isso não está certo! Esses meninos não vão saber se socializar com ninguém! Vão virar uns alienados! Isso é que dá tanta tecnologia! O tempo todo conectados com alguém que está do lado de fora desta casa e nenhuma conexão com quem está aqui dentro!
Inconformada, ligo para a minha mãe que atende ao telefone direto do quarto dela:
- Oi filha! Deus te abençoe! Tá vendo a novela? Eu sabia! Viu que blusa linda que a Carol está usando? Vai ficar ótima em você!
Conto até dez para não enfartar e pergunto pelo meu pai.
- Seu pai? Ah ele está no quarto dele assistindo jornal. Ele segue todos os jornais de todos os canais possíveis. E o volume? Ninguém suporta! Minha filha, seu pai está cada vez mais surdo. Você quer que eu o chame?
Desliguei o telefone. Não suportei esta traição dos meus próprios pais! Eles que sempre me ensinaram a importância do diálogo, da família unida e da convivência também se corromperam.
A esta altura eu já estava exaltada! Se não tinha TPM, eu acabei de inventar uma, pois dei inicio ao xingatório. Falei, falei e falei até cansar. Depois que eu falei tudo foi como se eu tivesse me esvaziado de uma grande indigestão. Voltei às minhas palavras e senti uma tranquilidade incrível. Consegui ouvir um silencio que já estava ali e só eu não tinha percebido. Fiquei por alguns minutos ouvindo e observando aquele silêncio todo.
Coloquei minha seleção de músicas preferidas e quando dei por mim, todos estavam cantarolando em seus cantos. Meu filho mais velho trouxe as fotos que ele editou. Ficaram lindas! Para comemorar, o mais novo trouxe balas para todos. Ficamos ali um bom tempo falando de fotos, de filmes e de possibilidades. Até o casamento da vovó entrou na conversa.
Envergonhada de mim, constato que, na era da tecnologia, até o ninho mudou. Ele continua aqui e meus filhos continuam nele. Mudamos o jeito de transmitir e eles mudaram o jeito de aprender, mas ainda existe aprendizado.
Os valores continuam presentes quando eles veem o pai pagando uma conta tarde da noite pela internet porque é o dia do vencimento. O limite continua existindo, quando o computador só é liberado depois da lição de casa e bloqueado para certos sites. Os valores se apresentam quando o reality, o cigarro e música ruim, naturalmente não faz parte da escolha deles.
Constato que nem tudo está perdido, o ninho não mudou de lugar, apenas passou a ser de fibra ótica!
Leila
Rodrigues – Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 03/04/2012
Agora liga pra mae e pede desculpas.
ResponderExcluirFantastic shot,....... nice work.
ResponderExcluirGreetings, Joop
Um lindo ninho de fibra ótica e uma mãe passarinho barulhenta que aprende com a tecnologia e não desiste do calor de todos juntinhos!
ResponderExcluirExcelente.
Beijo
Querida que belo texto.Feliz de você que ainda tem um ninho cheio para compartilhar, mesmo que seja de fibra ótica.Eu reparto o meu com uma cachorrinha que aceita minhas músicas, minhas novelas , meu computador, meus silêncios, mas que nunca é solitário porque enfeitamos a nossa vida de poesia e de esperanças.
ResponderExcluirParabéns pela bela família.Aproveite bastante ,porque pouco a pouco os filhos criam asas e voam e nós continuamos ali.
Amei! Bjs Eloah
Genial esse "ninho de fibra ótica"... O jeito é partirmos para megabytes de velocidade para acomodação das fibras cardíacas!
ResponderExcluirBj. Célia.
Querida Leila...
ResponderExcluirÓtima sua cronica..diria super atual..rsrs
Aqui em casa é a mesma coisa.
Mas é como voce disse...o importante é a responsabilidade, o amor, a familia estruturada.
Não da para isolar nossos filhos do contexto.
Só temos que verificar se as outras coisas estão funcionando.
Eles tem que ter a noção de equilibrio...
Eu sou carente assumida..adoraria todos no meu pé dizndo: eu te amo..rsrs
Um beijinho..
Leila, tudo bem?
ResponderExcluirLindo texto!
Mensagem de sensibilidade.
Já tenho medo desde agora da "síndrome do ninho vazio", e minha filhinha só tem 5 anos hahaha!
Mas do jeito que é, é tão bom. Um ninho completo, com amor, mesmo que com as imperfeições nossas... enfim.
Beijos e ótimos dias!
Adorei!
ResponderExcluirComo sempre textos otimos.
Sabe eu as vezes chego em casa e faço como seus filhos...me ligo no coputador, mas me divido em conversas com minha mae e minha filha...
Oi Leilinha,
ResponderExcluirTudo bem? Aquela expressão do ninho e eu aqui pensando que nem posso reclamar quando acontece isso aqui em casa,pois trabalho a maior parte do meu tempo no computador e olhe a hora que consegui me liberar para verificar as atualizações. Só tenho um filho e ele já nasceu conectado comigo, pois quando nasceu eu fazia doutorado aí na sua terra e aí sempre mamou competindo com o computador.
Desde os 09 anos ele tem um blog de críticas de cinema e aí a briga é quem publica e quantos acessos se tem no post. Todavia isso aproxima e vejo esse ninho de fibra ótica ainda mais resistente.
Linda crônica! Beijos em todos os integrantes do ninho.
Lu
Você mostrou que, não obstante as mudanças, tudo continua igual, em termos de família, quando esta é bem estruturada. A comunicação pode vir com informações obtidas de forma diversa, mas está presente. As limitações são feitas, a orientação é dada, o convívio permanece. O isolamento é, tão somente, aparente.
ResponderExcluirExcelente sua crônica!
Bjs.
Leila querida! Até parece que você leu o meu pensamento! Ainda ontem estava conversando com meu marido e um amigo sobre este mesmo assunto; sobre a infância diferente que tivemos em relação às crianças de hoje! Parabéns! Adorei o post! Obrigada pelo teu carinho! Desculpe as eventuais ausências, pois não consigo visitar a todos como gostaria... mas vou tentando....Uma sexta-feira iluminada e repleta de bênçãos!
ResponderExcluirAbraço fraterno e carinhoso!
Elaine Averbuch Neves
http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/
Oi, amiga Leila!
ResponderExcluirSua crônica está magnífica.
A gramática como sempre, está perfeita.
Ela retrata bem o cotidiano familiar na "era digital".
A tecnologia fascina pessoas de toda geração, mas não substituirá jamais os pais na ação disciplinar.
Temos que usá-las a nosso favor.
O olhar feminino é bem mais amplo e exigente.
O ninho pode mudar de forma, mas o amor materno permanece o mesmo.
Abraços do amigo de sempre!
Leila,
ResponderExcluirMuito actual o teu texto!
O mundo e a sociedade estão em constante evolução. Cabe a cada um de nós ser imaginativo, ter sempre presente o valor da convivência familiar para que um silêncio nefasto jamais invada nossas vidas!
Beijos,
AL
Leila
ResponderExcluirSíndrome do ninho vazio.
Inobstante a fibra ótica ainda temos o jeito de se comunicar com o pessoal de casa.Não resistimos ao vazio e o silêncio por muito tempo.Também agora me exaltei: Lindaaaaa crônicaaaaa.
Beijos.
.
ResponderExcluirNa bondade de sua visita,
no comedimento de suas pa-
lavras e na simplicidade
com que nos trata, eu con-
cluí que sei aonde está
o ninho; está na gente,
basta que o procuremos...
Beijos,
silvioafonso
.
No meio da confusão diária: onde fica o ninho? cadê os filhos? não acho a minha mãe...
ResponderExcluirandamos em descompassos... mas quando existe amor, o ninho pode ser o mais simples, porém, será o mais perfeito,
bjkas
.
ResponderExcluirEu queria muito que você
lesse o romance; Brisa &
Furacão. Tem tudo a ver
com o amor. Com a paixão
e com a esperança.
Mais detalhes em:
parceriaepoesiaemoficinadapalavra@live.com
Beijos.
silvioafonso
.
Bom dia,Leila!!!
ResponderExcluirTEXTO MARAVILHOSO!!!!Amei querida!!!!!Sabe, tem dias que é bem assim...mas mesmo diferente, ainda bem que existem os valores e os limites,né?!!!E com amor,para dar liga, tudo fica melhor!!
Beijos!!
Bom final de semana!
Leila,um excelente texto!Nesse mundo conectado de hoje,precisamos de novas estrategias para nos conectar com nossos proprios filhos em casa!Vc arrasa nessas cronicas!Bjs,
ResponderExcluirAmiga Leila retratastes a vida moderna de uma forma clara e translúcida, mas não esqueça de pedir desculpas a tua mãezinha viu? :) passando para me deliciar com teus textos e desejar-te um final de semana a moda antiga... chama a galerinha ai para fazer um pic nic no parque :) beijos no coração.
ResponderExcluirLeila,voltei para dizer que hoje tem texto seu no Recanto dos autores tb!bjs,
ResponderExcluirPalavras, para agradecer
ResponderExcluirSua agradável visita
Um ninho com dois pássaros estou a ver
Lá no alto em segurança fica!
Neste dia primaveril
Hoje é dia mundial do beijo
Sexta-feira dia 13 de Abril
Pra você muitas felicidades desejo.
Eduardo.
Leila,
ResponderExcluirVocê falou sobre todos os lares através de seu texto, pois acredito que em cada casa há alguém confuso, se perguntando onde afinal está o ninho?! A sensação inicial é estranha, resistimos a tecnologia como se ela fosse uma inimiga mortal, sequestradora de criancinhas - nossos filhos! Mas logo percebemos que a 'inimiga' usa a máscara que lhe dermos, inclusive, se assim quisermos, ela não usará máscara nenhuma! Nos lares onde existem limites claramente estabelecidos, não há perdas: apenas um novo ninho, modernizado, de fibra ótica! Mas os filhos continuam sendo filhos, e o amor ainda é amor.
Brilhante seu texto, sensacional a visão do ninho de fibra ótica!
Um beijo.
Querida Amiga do Coracao..
ResponderExcluirUm final de semana cheio de energia, paz...
Te amo.viu??
Beijinho do tamanho so ceu,,,,
Oi Leila..
ResponderExcluirRetratou direitinho a vida moderna...Temos que nos aliar a tecnologia..e não fazer dela nossa inimiga...Adorei a modernização do ninho para fibra ótica.
Ótimo fim de semana!
Beijos!
San..,
Oi Leila,
ResponderExcluirÉ por aí mesmo! E pensar que tenho duas amigas que não sabem nem ligar o computador! Não dá, o mundo é outro e este outro mundo tb tem seu lado bom, muito bom.
Se não vivéssemos neste novo mundo, eu não estaria aqui falando com vc, não é mesmo?
Beijos 1000 e um final de semana maravilhoso para vc.
www.gosto-disto.com
A tecnologia,tanto une quanto separa.
ResponderExcluirTemos que buscar o meio termo e a possível confraternização de todos.Adoro meu espaço virtual,mas também não abro mão do olho no olho, do toque,do cheiro...Beijo do agora leitor.:-BYJOTAN.
sinto a mesma coisa todos em casa mas cada um no seu mundo ! gostei de ler!
ResponderExcluira gente tem que acompanhara era tecnlógica ou ficamos ilhados no meio de todo mundo.
ResponderExcluirVocê disse algo que eu acho de suma importância: Limites! Sem esse, a vida desanda mesmo.
Adorei a sua explanação do seu ninho e a compreensão de que ele sempre esteve ali, não se desfez, somente teve as matérias mudada.
Beijokas doces e um bom domingo
Muito obrigado Leila! As palavras são sempre um ponto de encontro… Voltarei. Um abraço Antonio
ResponderExcluirAgradeço sua visita ao meu blog, mas é uma pena não estar seguindo!
ResponderExcluirUm beijo.
Leila nós temos que acompanhar com naturalidade essa evolução tecnológica sabendo que nós mesmas podemos mudar um pouco o rumo de cada momento.
ResponderExcluirAdorei a parte em que colocastes música e pouco depois todos cantarolavam e assim se uniram em histórias e novidades.
Xeros