Encosto
meus sonhos no canto da sala, guardo na gaveta os meus poemas e saio por a
procura de mim. A procura de outro de mim. Talvez a procura de outra pessoa que
possa habitar em mim e me fazer melhor.
Perder alguém não é simplesmente perder alguém e ponto final. Porque se perde o ponto. E ao perdemos o ponto, nos perdemos de nós mesmos. Muitas vezes nos perdemos muito mais de nós mesmos do que do outro que se foi.
Perdi você. E junto com você perdi a hora, perdi o sorriso, perdi o jeito... Perdi o caminho de volta para mim.
Andei, andei muito, perambulei por aí. Parei em esquinas tão longínquas, cruzei com pessoas tão diversas. Experimentei tudo que me prometia algum minuto de alívio para a minha dor. Tudo tudo. E nada! Toquei pessoas, beijei suas bocas, abracei seus corpos na ilusão de que fosse você. Bebi todas as fórmulas que prometiam me tirar a lucidez ainda que por alguns segundos, mas nada adiantou, quando eu acordava a dor acordava junto comigo novamente. E enquanto eu dormia, sabia que ela me vigiava incessantemente.
Vencido, prometi a mim mesmo que dali para frente você, dor interminável, seria a minha companheira. Passei a dialogar com você o tempo todo. Como um louco eu andava pela rua ao lado do meu inimigo invisível, visivelmente louco. Comecei a te mostrar o mundo, a te fazer perguntas e a esperar respostas. E as respostas eram sempre as mesmas. Um silêncio absoluto de quem já se havia ido há muito tempo. Nenhum eco, nenhum sinal, apenas aquele buraco imenso de silêncio me mostrando que a sua ida era real. E era para sempre.
Volto para casa. Aquela mesma casa empoeirada que eu deixei para ir em busca de nós dois. De mim ou de você. Àquela altura, qualquer um de nós dois que eu achasse estava bom para mim. Eu já havia perdido tudo mesmo. Voltei sem você e quase completamente sem mim. Sobrara-me tão pouco! Talvez apenas forças para voltar. Nada mais!
Ao entrar em casa, percebo meus sonhos no mesmo lugar. Meus pertences inertes à espera de mim para voltarem à vida. Minha velha xícara, meus chinelos gastos. Meu vaso de flor à beira da morte me pedindo um copo d'água, meu último brioche endurecido que eu não consegui comer. Meu cachorro cabisbaixo, magricelo e faminto ainda veio me cheirar. Olhei para aquilo tudo e comecei a chorar. Perdi você e eles me perderam.
Corri no meu quarto e abri a gaveta. Lá estavam eles, meus poemas empoeirados. Parados no tempo à espera de mim. Inertes, calados. Talvez tão doloridos quanto eu. Chorei molhando os papéis, deformando as palavras fui relendo cada um. Com as mãos trêmulas, pego de novo a caneta. Não sei por onde começar. Faltam-me palavras. Começo com uma qualquer...
Andei tão longe para me encontrar tão perto.
Leila Rodrigues
Perder alguém não é simplesmente perder alguém e ponto final. Porque se perde o ponto. E ao perdemos o ponto, nos perdemos de nós mesmos. Muitas vezes nos perdemos muito mais de nós mesmos do que do outro que se foi.
Perdi você. E junto com você perdi a hora, perdi o sorriso, perdi o jeito... Perdi o caminho de volta para mim.
Andei, andei muito, perambulei por aí. Parei em esquinas tão longínquas, cruzei com pessoas tão diversas. Experimentei tudo que me prometia algum minuto de alívio para a minha dor. Tudo tudo. E nada! Toquei pessoas, beijei suas bocas, abracei seus corpos na ilusão de que fosse você. Bebi todas as fórmulas que prometiam me tirar a lucidez ainda que por alguns segundos, mas nada adiantou, quando eu acordava a dor acordava junto comigo novamente. E enquanto eu dormia, sabia que ela me vigiava incessantemente.
Vencido, prometi a mim mesmo que dali para frente você, dor interminável, seria a minha companheira. Passei a dialogar com você o tempo todo. Como um louco eu andava pela rua ao lado do meu inimigo invisível, visivelmente louco. Comecei a te mostrar o mundo, a te fazer perguntas e a esperar respostas. E as respostas eram sempre as mesmas. Um silêncio absoluto de quem já se havia ido há muito tempo. Nenhum eco, nenhum sinal, apenas aquele buraco imenso de silêncio me mostrando que a sua ida era real. E era para sempre.
Volto para casa. Aquela mesma casa empoeirada que eu deixei para ir em busca de nós dois. De mim ou de você. Àquela altura, qualquer um de nós dois que eu achasse estava bom para mim. Eu já havia perdido tudo mesmo. Voltei sem você e quase completamente sem mim. Sobrara-me tão pouco! Talvez apenas forças para voltar. Nada mais!
Ao entrar em casa, percebo meus sonhos no mesmo lugar. Meus pertences inertes à espera de mim para voltarem à vida. Minha velha xícara, meus chinelos gastos. Meu vaso de flor à beira da morte me pedindo um copo d'água, meu último brioche endurecido que eu não consegui comer. Meu cachorro cabisbaixo, magricelo e faminto ainda veio me cheirar. Olhei para aquilo tudo e comecei a chorar. Perdi você e eles me perderam.
Corri no meu quarto e abri a gaveta. Lá estavam eles, meus poemas empoeirados. Parados no tempo à espera de mim. Inertes, calados. Talvez tão doloridos quanto eu. Chorei molhando os papéis, deformando as palavras fui relendo cada um. Com as mãos trêmulas, pego de novo a caneta. Não sei por onde começar. Faltam-me palavras. Começo com uma qualquer...
Andei tão longe para me encontrar tão perto.
Leila Rodrigues
Leila,
ResponderExcluirque lindo, Leila!
De todas viagens que a vida nos permite, a perda, é a que nos permite uma jornada mais ao fundo de nós mesmos, num auto-conhecimento gerado pelo vazio do peito, na ânsia do preencher da alma!
Beijos, amiga!
Muito lindo, fino e delicado :)
Minha amiga fidalga!
ResponderExcluirQuando ghego aqui é para beber um texto tão lindo no sentimento e nas palavras...
Sabia que vc é simbolo de sensibilidade quando nos presenteia com tamanha formula de emoções...na escrita.
Bjs minha linda e uma grande saudade!
Essa busca de mim... de nós... pode durar toda uma eternidade! O importante é buscar e, ao encontrar, valorizar cada minuto desse encontro!
ResponderExcluirAbraço, Célia.
que lindo flor!!!! vc mudou o lay que fofo ficou, sabia??
ResponderExcluirgostei muito! beijinhos!!
Lindo, Leila.
ResponderExcluirTodos nós temos nosso momento de perdição. Saímos a procurar, sem sequer pensar que podemos estar na sala, vendo tv, comendo bolacha... Ou podemos estar no sorriso da mãe, da amiga, do amor. Andamos, andamos e sempre nos achamos em nós.
Beijo
Olá Leila!
ResponderExcluirQualquer coisa que eu escreva, será "chover no molhado". Como sempre: Muito bom! Gostei demais!
Um abração.
Leila,
ResponderExcluirpassei para dar um beijinho e ler de novo! Lindo!
Ótimo fim de semana! :)
Leila...
ResponderExcluirLi seu texto, e fiquei pensando aqui..
Como ela consegue?
Como você consegue colocar em palavras tantos sentimentos!!
Sentindo???
Um beijo..parabéns pelo seu talento!!
Bom final de semana!!
Bacana seu blog...Parabéns!!
ResponderExcluirTodas as respostas estão ao alcance de nossas mãos, basta as encostarmos em nosso coração... Olá querida Leila depois de uma longa ausência, uma ausência querida e planejada volto para abraçar-te e agradecer o carinho de sempre, ainda estou tateando as ondas, necessário ainda uns dias para eu retomar o leme com força total, o que é natural. Te desejo dias de paz e muitos sorrisos ao teu redor. Um beijo enorme no coração!
ResponderExcluirVOCE ESTÁ CAA VEZ MAIS ACONCHEGANTE DE TI MESMA,ENJOY!
ResponderExcluirProfundo seu texto! Profundamente real e verdadeiro...
ResponderExcluirQuem perde alguem, se perde tambem...e sabe é dificil se achar...é dificil achar o caminho que iamos...é dificil achar o prumo novamente...
Creio que eu ainda ando a procura de mim...
Amiga querida,
ResponderExcluire voce vai se achar bem mais perto do que imagina...
Beijos e boa semana!