domingo, 30 de outubro de 2016

Quando estamos juntos



Eles vieram. E meu coração bateu feliz como batia nas manhãs de domingo da minha infância. Eles vieram. E juntos fomos de novo os meninos de antes, a família de sempre. Minha mãe na cozinha, com seus temperos, seus cheiros e seu jeito doce de nos unir. Meu pai com suas memórias, suas histórias e seu frango caipira que desafia qualquer paladar. Éramos nós de novo. Os quatro em volta daqueles dois agora pequenos, mas tão grandes para nós. Eu e meus três irmãos. Aqueles que até hoje ainda chamo de “meninos”. Será por que? 
Talvez seja porque o nosso tempo de “meninos" tenha sido tão intenso e verdadeiro que ficou para sempre. Ou talvez porque no fundo sejamos mesmo aqueles meninos da Rua Antônio Eliazar. O fato é que, quando estamos juntos, somos de novo aqueles mesmos meninos. Os filhos do Déco e da Neusa. Depois de tudo que conquistamos na vida, a grande satisfação é saber que o que somos mesmo é filhos deles! 
Quando estamos juntos ainda fazemos arte, nos chamamos de apelido, quebramos por completo  as regras e nos deixamos ser meninos de novo. Juntos rimos das mesmas antigas piadas e contamos de novo os mesmos casos da nossa própria história. Cantamos e dançamos as nossas músicas, aquelas que ouvimos desde criança, aquelas que sabemos as letras de cor. Aquelas da radiola que tínhamos em casa. Não são simples musicas, são fragmentos de uma história. Da nossa história.
A esta altura já não dá mais para dançar tanto como antes, a coluna reclama, o joelho talvez. Mas é possível sentir a mesma alegria simplesmente porque estamos juntos. Não há tesouro maior que o amor deles! Não há nada que nos revigore e nos fortaleça mais que matar a sede neste pote chamado família. É assim quando estamos juntos. É assim que renovamos nossos laços.
Amanhã cada um vai continuar a sua vida. Eu com os meus problemas, com as minhas aflições e cada um deles com os seus desafios também. A luta é individual! Cada um vai tentar a seu modo matar o leão e alimentar o mamute. Cada um vai tentar como pode construir as suas pontes e derrubar os muros que tiverem pela frente. Cada um vai educar os seus filhos, exercer suas funções, amar os seus parceiros e sobreviver nesta selva. Porém, com alguma coisa em comum, nutridos pelo amor de quando estamos juntos, aquele momento que passa tão rápido, mas que segue nos saciando pelos dias afora…


Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos
Imagem: acervo da família Rodrigues (que nunca ligou para foto)

Olá pessoal,

semana passada  mais um ciclo de vida. E desta vez eu quis a companhia deles. Deles, meus pais, meus irmãos, minhas cunhadas, meus sobrinhos, meu marido e meus filhos. 
Tudo que eu descrevi acima foi realmente vivido. Eu sinto falta de ser menina de vez em quando e ao lado deles é quando eu posso fazer isso. 
Cada família uma história. Uma história, muitos desafios e muitas alegrias. Essa foi a minha. Que a sua família e a sua história te fortaleça e te mantenha nutrido de amor.

Grande abraço




Leila Rodrigues




domingo, 23 de outubro de 2016

Entre eles


Ele quer um filho, ela quer um cachorro. Ele gosta de carne, ela acabou de se tornar vegana. Ele é piloto e ela tem medo de altura. Ela corre toda manhã, ele corre da atividade física. E ainda assim estão juntos e buscando a felicidade.
Ela quer um ouvinte, ele quer uma amante. Ele quer viajar, ela quer vigiar. Ele quer um trago, ela quer um afago. Ele quer ação, ela quer atenção. Ele é de pouca fala, ela fala, fala e fala... E nenhum dos dois consegue enxergar o que o outro quer. 
Eles. Entre eles, por eles e a partir deles. Qual é a receita certa? O que faz com que duas pessoas acertem o passo e sejam felizes juntos? Vejo tantas pessoas que vivem juntas, debaixo do mesmo teto e a milhas de distância um do outro. E também já vi pessoas que se relacionaram durante anos em países diferentes e foram muito felizes. Será o tempo, o dificultador? Ou seria a distância?  Provavelmente a distância que se criou entre os dois! Há quem diga que é preciso que se pareçam. Também já ouvi dizer que é nas diferenças que se completam. A receita é de cada um. Ou melhor, de cada dois. A receita certa é aquela que os dois constroem juntos na medida exata de suas vontades. A dose certa de ceder, de agradar e de apoiar é aquela que cada um pode dar sem cobrar em troca, portanto é única. É preciso não ter receita alguma, para que cada um possa ser livre para colocar os seus próprios temperos e assim formarem um bom sabor. 
A única premissa é que entre eles se fale a mesma língua. Entre eles e por eles. Há que se ouvirem e encurtarem o abismo que existe entre um falar e um ouvir. Há que se olharem mais. Se olharem até perceberem o que os olhos não veem. Há que se darem as mãos, ainda que caminhem por estradas distintas. 
É preciso gostar muito de si. A ponto de entender o gosto do outro. É preciso aceitar a escolha do outro, por mais amarga que esta lhe pareça. Sem preconceitos. Sem julgamentos. Afinal é isso que esperamos em relação às nossas escolhas. 
Que ele queira voar e ela queira o chão, não importa. Mas em algum lugar entre o chão e o céu, que eles encontrem um espaço só seus, para serem ali um só. A partir daí, todas as diferenças serão pequenas. 


Leila Rodrigues

Imagem da internet: https://www.tumblr.com/search/fotos%20peb
Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos

Olá pessoal,

Cada escolha que fazemos terá o seu preço. No entanto, algumas escolhas refletirão parece sempre em nossas vidas. A profissão, um filho e principalmente a escolha do parceiro ou da parceira. Ainda que não seja eterno, que tudo termine daqui um ano, dez anos ou cinquenta anos; um parceiro, por via de regra, deveria ser um grande amor e vice-versa. Quando escolhemos alguém, queira ou não escolhemos um pacote completo - uma pessoa, sua genética, sua família, seu ecosistema, suas manias, seus sonhos, seus predicados e sua história. Não dá para chegar zerado em uma relação e começar tudo de novo. Somos o resultado da nossa história até a um segundo atrás. E talvez por isso mesmo a convivência seja algo tão complexo. Complexo, vivo, dinâmico e desafiador!
“Entre eles” é fruto da minha observação e das muitas conversas que tenho com pessoas que não se cansam de tentar. De tentar, de experimentar, de acertar e errar… É a vida!

Grande abraço




Leila Rodrigues

sábado, 15 de outubro de 2016

Ao mestre




Eu tinha pressa. A ideia era assistir à apresentação do meu filho e sair. Não por não me interessar pelas outras apresentações, mas porque eu realmente tinha compromisso. E nada do evento começar. Só chegava gente! Turmas e mais turmas de alunos, vindos de várias escolas lotavam o ginásio. Lembrei de mim. Lembrei dos meus treze anos e do quanto nesta idade as "turmas" são importantes. Eles cantavam, dançavam e em uma manobra dificílima conseguiam colocar 20, 30 pessoas em uma só foto. A selfie era motivo de farra! 
Eu acompanhava quieta do meu canto. Gosto disso! Gosto de ver as pessoas vivendo os bons momentos como se tivessem saboreando uma deliciosa fruta. A Banda da Polícia Militar fez bonito. Tocou para eles, musicas deles. E a meninada foi ao delírio. Lindo de se ver! 
Meu filho era apenas um no meio de centenas de crianças que se formavam no PROERD, Programa Educacional de Resistência às Drogas. Um projeto que ensinou muito mais do que se pode imaginar. Um projeto que educa de verdade crianças e famílias. Que prepara nossos filhos para dizerem não. Que mostra como as escolhas erradas podem mudar para sempre nossos destinos.
O evento seguia bonito e cada escola se apresentava para os demais. Não dava para sair. Fui tomada pela energia dos estudantes e fiquei um pouco mais.
Quando realmente não pude mais ficar, me preparei para atravessar a multidão de gente. No meio da quadra uma professora sambava abraçada aos seus alunos. E quando um aluno pensava em ter vergonha de estar ali, ele olhava para ela que ditava os passos e ao mesmo tempo sorria para eles e seguia a dança. E diante daquela multidão de gente, aquela mulher vibrava por eles a cada passo a cada segundo de conquista. 
Lembrei da minha professora segurando a minha mão quando eu tinha vergonha de me apresentar. Lembrei de mim dando aula na escola da Vila Boa Vista e dançando junto com os meus alunos. Lembrei dos meus mestres e do quanto foram importantes para mim. Não consegui conter as lágrimas. Chorei. Ser mestre é isto! É devolver a auto-estima estraçalhada pelas circunstâncias. É estar ali do lado, presente, firme, não importa a plateia, não importa o resto. 
Essas palavras são para vocês, mestres brasileiros, que doam suas vidas na função de educar. Para vocês que muito além de ensinar, estimulam nas pessoas o gosto pela vida. Neste país que ainda não aprendeu a valorizar seus mestres, deixo aqui a minha reverência, o meu respeito, a minha eterna gratidão e todo o meu amor por vocês! 

Leila Rodrigues

Olá pessoal,

Talvez eu seja uma pessoa fora do padrão, mas sempre fui e continuo a ser uma pessoa apaixonada pela escola. Adoro estudar, adoro estar em uma sala de aula, seja como aluna, seja como professora. Magistério é a minha primeira formação e a minha base para tudo que faço. Jamais esquecerei das aulas de didática da querida Dona Sonia que me ensinou muito mais que o que a apostila propunha. 
Também não poderia deixar de falar das minhas professoras do primário do Grupo Abílio Neves em Campo Belo. O primário é tão importante em nossas vidas que essas professoras se tornam parte da nossa história. Dona Benedita e Dona Neusa, vocês são inesquecíveis para mim!
A todos vocês meus colegas de formação e profissionais do ensino, meus parabéns. Parabéns pela coragem de serem mestres! Que este país um dia aprenda a valorizá-los como merecem!
Grande abraço


Leila Rodrigues


domingo, 9 de outubro de 2016

Noves fora?



Mas afinal, quem ganhou? E quem ganhou, ganhou o quê mesmo? Se quem ganhou está perdido, quem perdeu está o quê? O que é ganhar ou perder no jogo das eleições? Em qualquer jogo, um tem que ganhar e o outro perder, mas no jogo das eleições o correto é o povo ganhar. E o povo anda perdendo! Perdendo o rumo, perdendo o ânimo, perdendo a fé. 
Desta vez, pelo menos por aqui, houve muito pouco tumulto. Não fiquei sabendo de nenhuma confusão. Quase ninguém foi preso e absolutamente ninguém tentou me assediar no caminho. Votei. Eu e os outros milhões de brasileiros. Exercemos nosso direito de cidadão? Ou terá sido o dever da opinião? Sei não! 
Em um país que tem mais de 5000 municípios e com mais de 16.000 candidatos a prefeito, acontece de tudo nas eleições municipais. De morte de candidato a candidato que sumiu. É o Brasil! 
Um ganhou de  "balaiada”, o outro por dois votos de diferença e teve ainda aqueles dois que empataram no 5811 votos. Na cidade em que dois irmãos disputavam em chapas diferentes, a mãe provavelmente não votou em nenhum dos dois. Coitada! Situação difícil! E tem ainda um senhor chamado “Nulo”, que concorreu no país inteiro. Pressinto que, se ele se candidatar à presidência, nem precisará de segundo turno. Só não sei se aparece para receber o cargo! E depois, para exercê-lo?
Com tudo isso, em muitas cidades, ainda não se sabe quem ganhou realmente. “Tamo junto irmão!”
Satisfeitos ou não, animados ou não, lá fomos nós, o povo brasileiro, às urnas novamente. O que me assustou foi exatamente o silêncio. A apatia é o primeiro sintoma de uma doença grave chamada desilusão. Deixa como é que está para ver como é que fica? Terá sido só mais um domingo? Eu espero que não. Afinal a história de nossas cidades pode ter realmente recomeçado a ser escrita neste domingo. Caso contrário, vamos ter que esperar, no mínimo, mais 4 anos.
Seja muito bem-vindo você que venceu. Se vai pegar a casa limpa ou suja, arrumada ou de pernas para o ar, isto eu não sei dizer. De qualquer forma, agora é com você! Faça valer o seu nome, faça-nos orgulhosos de você!
Independentemente de partido, de número de votos a favor ou contra, que fique claro para todos que assumirão em 01 de janeiro de 2017, nossas cidades precisam de quem as administre com seriedade e respeito. De quem coloque as necessidades acima dos interesses e sobretudo a ética e a honestidade como base das ações. Porque, caso contrário, noves fora nada!

Leila Rodrigues

Olá pessoal,

atendendo a pedidos, falei das eleições. Me reservo o direito de não fazer apologia a nenhum partido político e nem a nenhum candidato. Ouço muita gente dizer que não gosta de política e o número de votos nulos, brancos e justificados provam este fato. Você não precisa gostar de política, mas precisa gostar da sua cidade, do seu estado e do seu país o bastante para respeitar, cuidar e fiscalizar. Na minha opinião de cidadã, a eleição é apenas o primeiro passo. O nosso papel começa agora. Todos querem seus direitos de cidadãos, mas muitos poucos exercem seus deveres como tal. Cuidar, observar e acompanhar o desenvolvimento de nossos bairros, nossas cidades e consequentemente do estado e do país é trabalho de todos. Todos somos co-responsáveis. 
Se cada lugar tem o governo que merece, que façamos por merecer uma boa administração em nossas cidades.
Grande abraço


Leila Rodrigues