terça-feira, 26 de julho de 2016

Ressaca Moral


A cabeça doía. O estômago queimava e o fígado dava seus sinais de que não estava bem. Mas tudo isso passaria com um chá de boldo, gelatina e limonada. O pior estaria por vir. A ressaca física castiga nossos órgãos mas a ressaca moral, essa não tem remédio! 
Eu tinha que me levantar, o sol já estava alto e a vontade de tomar um bom banho me impulsionou a agir. Agradeci por ser domingo. Já imaginou ter que trabalhar neste estado? 
De todas as lições que podemos tirar deste dia provavelmente a mais importante é a de que todos nós, em algum momento, seremos frágeis, fracos, vulneráveis. Todos nós, um dia, vamos precisar de alguém que cuide de nós. Até o mais poderoso dos mortais vai precisar ser cuidado. É aquele momento em que descemos da cadeira do poder e ocupamos a última cadeira da fila, a dos necessitados. 
O que doe é saber que não conseguimos ser forte o bastante. Doe saber que não conseguimos lucidez suficiente para dizer basta. Isso prova que eu também ainda tenho muito que aprender. Isso prova que eu sou uma cidadã comum e não alguém imaculado acima do bem e do mal. Eu de certa forma estou feliz, nada mais reconfortante que aceitar e reconhecer que não somos perfeitos. O peso da perfeição impede nossos passos e caminhar sem bagagens é bem mais prazeroso. 
Além do mais, a vida é um experimentar de papéis opostos. Um dia somos mocinhos, no outro bandidos. Um dia somos fortes, no outro fracos. Um dia ensinamos uma lição, no outro somos aprendizes delas. Um dia estamos com a razão, no outro dia a encontramos do lado de lá...
Resta-me aceitar que ontem foi um dia de fraqueza da minha parte e que amanhã eu terei outras oportunidades de mostrar a minha força. Não importa a origem da sua ressaca, pode ser que você tenha exagerado no álcool, na comida da festa, na língua afiada ou na maldade camuflada contra alguém. Tudo isso são falhas que geram em nós uma ressaca moral. A famosa vergonha do dia seguinte. Aquela que temos  dificuldade de contar até para nós mesmos.  A vergonha de ter feito, de ter dito, de ter desejado, de ter trazido à tona aquele lado escuso que até então ninguém conhecia. 
Para mim, resta agora  limpar tudo que eu sujei  e começar a minha semana. Eu, eu mesma e a juíza que vive em mim! Ela sim sabe puxar a minha orelha sempre que eu preciso e me fazer voltar para a linha quando eu saio dos trilhos.


Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora Divinópolis
Imagem da Internet


Olá pessoal,

independente da escolha de ingerir álcool ou não, todos nós temos nosso dias de ressaca. É aquele dia que fizemos algo  que temos certeza de que não deveríamos ter feito. Todos nós já experimentamos essa “ressaca”. Eu, você e qualquer outro mortal.
Que esses dias nos sirvam para alguma coisa!
Nem que seja para fazer uma boa desintoxicação do fígado.

Grande abraço e mais uma vez muito obrigada pela visita aqui no Palavras.

Leila Rodrigues






sábado, 9 de julho de 2016

Com amigos


Há alguns dias fui a um restaurante com uma turma de amigos. Éramos 10 pessoas. No restaurante éramos a única mesa grande, as demais tinham, no máximo 4 pessoas e todos casais.
Fiquei sentada de frente para as outras mesas e pude ver o quanto a minha turma incomodou os demais. Tudo era motivo de riso, uma pessoa de uma ponta conversava com o outro da outra ponta, as piadas eram ouvidas pelo restaurante inteiro, enfim, nós avacalhamos a noite de alguns. Sinto muito. É que, com amigos a coisa muda de figura. 
Com amigos é fácil rir, é fácil falar alto, é fácil experimentar aquele prato esquisito e por que não provar aquela bebida que você jurou que nunca provaria? Risco compartilhado fica mais leve de se correr. Esse é o poder dos amigos!
E algumas coisas são realmente impossíveis de se fazer se não houver uma turma de amigos com você. Só com amigos você se dispõe a soltar o corpo e cair na dança. Só com amigos você põe aquele chapéu de mexicano na cabeça, só com amigos você se aventura no Karaokê. Já viu alguém chegar sozinho no Karaokê e cantar? Dificílimo!!! Mas os amigos existem para isso, para te dar a coragem que até então você não teve! 
Com amigos você não perde tempo, você usufrui do tempo. Com amigos você não gasta dinheiro, você investe em diversão. Com amigos você fica até o sol raiar, faça sol, faça chuva ou faça um frio de matar. São eles e por eles que nos aventuramos!
Com amigos você esquece que é velho ou que é novo e fica tudo bem. Com amigos a dieta vai embora, a dor nas costas vai embora e a pre-ocupação também. Sabe por que? Porque amigos ocupam nossos espaços temerosos. Amigos acalentam sem dizer, acalmam simplesmente pelo fato de nos fazerem companhia. Eles trazem de volta a infância perdida no meio de tantas responsabilidades. 
E a natureza das amizades é tão perfeita que em todo grupo de amigos tem sempre um que toma conta do resto, um que leva todos os remédios possíveis na bolsa, outro que é o motorista da rodada, outro que fica de olho na conta e faz a contabilidade do time e ainda aquele que é mais engraçado  que os outros e garante a diversão dos demais. Isso tudo naturalmente escolhido. 
Abençoados sejam eles, os amigos nossos de cada dia, que ninguém explica direito como se formaram e nem como se completam tanto, mas que todos nós sabemos que são o lado doce de nossas vidas salgadas.

Leila Rodrigues


Imagem da internet
Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos


Olá pessoal, 

já estive do lado de lá da mesa. Já fui a lugares sozinha onde havia uma turma de amigos se divertindo. Não me lembro de ter ficado incomodada, mas sei que à vezes incomoda sim. E peço desculpas pelas vezes que incomodei. 
Hoje quis relatar a importância das amizades em nossas vidas. Eu que era uma workaholic de carteirinha posso dizer que os amigos mudaram a minha vida e me fizeram ser uma pessoa mais leve. Hoje dou sim importância para esses momentos mágicos em que estamos juntos.
Tenho a turma da gastronomia, a turma dos trairas, a turma do duvido, a turma do trabalho, a turma do rock e a turma das mães. Em cada uma delas um afinidade diferente. Mas em todas, o respeito, a admiração, o carinho uns pelos outros e a leveza de viver. Esta sim é a minha bandeira. 
Sejamos leves! Por que os fardos já são pesados por si.

Grande abraço 



Leila Rodrigues

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Troque o verbo


No princípio era o verbo, já dizia a Bíblia. E no meio também! No meio, no fim, antes, durante e depois. Viver é praticar verbos. Dormir, acordar, comer, trabalhar, andar, correr, cuidar, administrar, escolher, calcular, viajar, estudar.. ufa!!! Muitos verbos para um sujeito só. Daí a explicação para nossas doenças, nosso stress, nossa insanidade controlada. 
Estamos todos ocupados demais praticando nossos verbos. Será que o tempo é curto para tantos verbos? Ou quem sabe não estamos praticando o verbo errado? 
Há quem passe o tempo todo praticando o verbo curtir. Mas não tem curtido a própria vida. Há quem pratique exageradamente o verbo trabalhar e em contrapartida não pratica alguns outros verbos como divertir, passear. Geralmente a turma do verbo exercitar, pratica outros verbos congruentes como correr, nadar, pedalar, malhar e contar (neste caso calorias, kms e medidas). 
E existe a turma dos novos verbos, logar, dropar, bootar, debugar, que é quase um outro idioma. Tem nome que já virou verbo - Caetanear.
Tem gente que há anos pratica o mesmo verbo. Já virou gerúndio! Está sempre terminando, separando, esperando, confirmando, querendo, aguardando… mas fazendo mesmo que é bom, nada!
Eu pratico muito pouco o verbo esperar. Sou daquelas ansiosas que não aguentam. Então troquei os verbos esperar que sempre precede o verbo desesperar pelos verbos respirar, caminhar, tomar (um café), ocupar (me). Não é que deu certo?  Estou melhorando! 
Cada um sabe as trocas que tem de fazer para a vida fluir melhor. A receita não vem de mim, nem de um livro de auto ajuda qualquer. O importante é sair do lugar comum e se arriscar. Fazer o que nunca se fez. Se você religiosamente pratica o mesmo verbinho, experimente praticar um verbo diferente. Troque o verbo preocupar pelo verbo ocupar. Troque o verbo consumir pelo verbo usufruir. E nunca pratique o verbo arriscar sem antes praticar o verbo pensar.
Para os ciumentos, troque o verbo vigiar pelo verbo amar. É tão cansativo ter que vigiar o outro! E tão revigorante simplesmente amar.
Para os apressados, troque o verbo correr, pelo verbo espairecer. É um verbinho antigo, parece coisa de roceiro, mas que tem um significado restaurador.
Para os preguiçosos de plantão, troque o verbo assistir pelo verbo fazer. Faça alguma coisa meu filho! Sai dessa cadeira de expectador e vai viver!


Leila Rodrigues

Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora e no JC Arcos


Olá pessoal,


Este texto foi inspirado em um anúncio antigo de um curso de português que dizia, "Pratique um verbo melhor”. O anúncio, claro, se tratava da gramática, da concordância que até hoje ainda precisa de muito trabalho. Gostei da frase. Gosto de imaginar que podemos sim escolher verbos melhores para praticar. Nesses tempos líquidos em que tudo é tão rápido e descartável, sinto falta de verbos mais sólidos, que façam valer a pena. 
No mais, gostaria de aproveitar a oportunidade e agradecer a você pela visita, por disponibilizar o seu tempo aqui no Palavras e principalmente por divulgar. O Palavras começou devagarinho, como bom Mineiro e está crescendo a cada novo texto, a cada leitura sua, a cada vez que você comenta com alguém. Muito obrigada! Isso me anima e me dá vontade de escrever cada vez mais…
É o verbo “fazer" (o que se gosta) mais o verbo “encontrar” (as pessoas certas do lado de lá da telinha). 

Mais uma vez obrigada. Grande abraço!

Leila Rodrigues