Levada pelo pensamento, como o vento leva a chuva, ela caminhava de volta para casa. Sempre a pressa, sempre o tempo. Contrariando o cotidiano, desta vez não era a janta que habitava seus pensamentos, nem o dever das crianças, nem o vazamento da pia. Quem a acompanhava pelo caminho era seu devaneio mais recente, uma nova oportunidade. Sim, uma oportunidade, essa dama encantada que habita nossos horizontes, havia beijado a sua face. Àquela altura de sua vida uma oportunidade de começar de novo, de um jeito novo em um novo lugar! Só de pensar nesta possibilidade, ela já se sentia embalada por este novo mundo. Riu de si mesma, conversou sozinha, não conseguiu parar de pensar. Fez e refez mil planos na cabeça, sentiu frio na barriga, tudo isso movida por esta janela que se abrira em sua vida.
A dúvida atormentava-lhe a mente. De um lado, a velha e costumeira vidinha de sempre, família, filhos, trabalho. Tudo tão encaixado para caber na agenda e na vida que até os problemas já lhe eram previsíveis. Não fosse a mesmice dos dias, não fosse a falta de emoção, diria que estava tudo perfeito em sua vida. Para quê mexer?
Do outro lado, feito criança na roda gigante, a oportunidade lhe convidava a largar a zona de conforto e experimentar começar tudo de novo. Quantas vezes ela não desejou, desesperadamente, uma oportunidade de recomeço? Quantas vezes, no auge da dificuldade e da dor, ela não quis uma chance desta? E agora que ela menos esperava, que ela já se havia acostumado com o que tinha, surge este pacote surpresa para dividir seu coração ao meio?!
Chegara a perder a fome, tamanha a dúvida. Silenciosamente cultivava aquela dor de quem precisa decidir um caminho a seguir. A dor não era escolher o caminho e sim, deixar um caminho. O que doía não era o caminho a ser escolhido, mas o que fosse deixado para trás, seja ele qual fosse. Descobriu que estava mais presa aos seus do que imaginava.
Resolveu colocar tudo na balança. E se surpreendeu! Descobriu uma equação que não se ensina nas escolas. Pessoas pesam mais que propostas, saudades medem mais que a distância, liberdade pesa mais que comodidade e felicidade nem sempre combina com facilidade.
Diante de tamanha dúvida, ela rezou, pediu, pensou, calculou, chorou, sorriu e finalmente experimentou o momento mais solitário da vida. A hora de decidir.
E assim decidiu! Optou por ser feliz. Achou este o caminho mais adequado.
Leila Rodrigues
Imagem da internet
Quando a escolha é por ser feliz, paga-se o preço, pois pessoa carente, infeliz não dá para suportar a companhia da mesma.
ResponderExcluirAbraço.
Decidir é uma das coisas mais difícil da vida! To com ela, decidiu pela felicidade. Belo conto, querida Leila!
ResponderExcluirBeijos pra você.