quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

De volta para o passado





A vida seguia normalmente. Trabalho, casa, filhos, marido... Pais com a saúde debilitada precisando de cuidado e atenção, filhos alçando voos, marido caminhando para a aposentadoria. Tudo muito comum para quem faz parte do pacote “aproximadamente 20 anos de casado”. Mas eis que o inusitado começou a bater devagarinho em sua porta, ou melhor, em sua cabeça. Ela se viu com vontade de fazer tatuagem, de cortar o cabelo bem curto, de comprar um jipe, de escalar montanhas, de voar de asa delta e de conhecer Machu Picchu. 

Confusa com tudo isso, pensou que estava enlouquecendo. Depois questionou se isso só acontecia com ela. E ainda se perguntou se não seria a sua adolescência que, depois de anos adormecida, resolvera voltar. 

E eu, como uma das seis melhores amigas que ela tem, resolvi colaborar. 

Quando somos adolescentes, todos os sonhos são poucos para nossas mentes fervilhantes. Experimentamos querer ser tudo e nada ao mesmo tempo. Qual menina nunca sonhou ser aeromoça, bailarina e professora? Praticamente todas nós sonhamos. Os meninos, a maioria deles, em algum momento de suas vidas sonham ser engenheiros, pilotos ou ter uma banda. Faz parte do fervilhar de ideias. 

Só que aí vem a realidade como um furacão e arremessa todos os nossos sonhos ao chão cruel e duro de nossas estradas. Realidade, necessidade e contingências passam por nós como um rolo compressor. É preciso trabalhar, é preciso crescer, é preciso criar os filhos e é preciso nos recriar a cada tombo. De sustentados nos tornamos sustento. E para que esse sustento sobreviva melhor engavetar os sonhos. 

E assim passamos boa parte de nossas vidas ocupados com essa “pseudo-evolução” enquanto a gaveta dos sonhos descansa em paz como um criado mudo, que de tão mudo, ninguém percebe mais.  

Ate que chega o dia em que percebemos que tudo que tão solidamente construímos não consegue nos trazer felicidade. É quando sentimos saudade de nós mesmos. Saudade do tempo em que a felicidade era mais simples e infinitamente mais intensa. Hora de abrir a gaveta dos sonhos. Eles estão todos lá, inertes à nossa espera. Sorrindo como uma criança e prontos para nos fazer felizes de novo.

Não amiga, não é a sua adolescência que voltou é você que quer de volta a felicidade que é só sua e que só você pode se dar. Permita-se ser e viver tudo isso, afinal, daqui só se leva a alma, E deve ser bem melhor que ela vá feliz!


Leila Rodrigues


Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 11/02/2014.
Imagem da internet

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Até quando?




Viajar é, sem dúvida, expandir a alma. Conhecer novas culturas, novos ambientes, novos comportamentos e formas de viver faz com que saiamos do nosso "mundinho particular" e assim consigamos compreender um pouco mais adversidades. O diferente não é um inimigo à espreita, é apenas o diferente e nada mais. Outras formas de viver também são formas e também trazem felicidade.

O difícil é quando conhecemos uma cultura mais "civilizada" que a nossa. Sim, a palavra que eu quis dizer foi essa mesma, CIVILIZADA. Um lugar onde a fila funciona, onde o trânsito funciona, onde o respeito pelo próximo funciona é, com certeza, um lugar mais civilizado que este nosso amado e idolatrado país.
Amo o meu país e não pretendo deixá-lo. Já entendi também que não se pode comparar o primeiro mundo com o nosso. Mas é difícil ter que aceitar que o nosso DNA é esse. Dá vontade de mudar tudo! De começar um movimento, de sair limpando as ruas, acordando as pessoas para o respeito para com o próximo e para com o ambiente.

Sabemos que o problema tem origens muito profundas. A começar pela nossa colonização. Mas até quando vamos continuar usando essa desculpa para a nossa "não evolução"?

Fiquei alguns dias me questionando de onde vem essa rebeldia do brasileiro que em tudo tem que burlar a regra? Por que a ordem nos incomoda tanto? Por que tanto desrespeito para com o ambiente? Que tamanha falta de amor às nossas cidades, ao nosso país? Será que algum dia seremos mais educados?

Sofremos com a falta de infraestrutura básica e em contra partida respondemos com o descaso pelo ambiente, pelo próximo e pela vida. Escolhemos nossos representantes pelo que ele vai nos favorecer ou pelo menos pior. Repreendemos o "jeitinho" que o outro deu, mas usamos o "jeitinho" a nosso favor.

Será que o nosso país ainda tem jeito?  Até quando vamos nos envergonhar de nós mesmos? Será que podemos começar por algum lugar? Resolvi começar dentro da minha casa, com os meus filhos, que é onde eu realmente posso fazer alguma coisa. Ainda acredito que se em cada família, crescer uma criança civilizada, teremos grandes chances de, daqui a alguns anos termos algum progresso. Se vamos conseguir ou não? Melhor fazer do que questionar. Pois só agindo podemos sonhar com um Brasil melhor.

Leila Rodrigues

Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 04/02/2014
Imagem da internet