Eu tinha 13 anos
quando me apaixonei pela primeira vez. E foi quando eu entendi que precisava
dormir, acordar, estudar, tomar banho enfim, fazer tudo com o coração
completamente inundado de alguém. Foi muito difícil! Difícil organizar as
ideias, difícil concentrar, difícil não pensar, difícil me desvencilhar daquele
ser que tomava conta de mim. Tomava conta de mim, do meu pensamento, do ar que
eu respirava. Quase desisti de amar, mas não foi desta vez.
Eu tinha 16 anos
quando perdi a minha avó que era uma pessoa muito importante para mim. E eu
tive de novo de fazer tudo com o coração inundado da falta de alguém. Os dias
eram intermináveis, a saudade parecia um furacão a me corroer por dentro. E
viver foi novamente muito complicado.
Eu tinha 21 anos
quando fui pela primeira vez deixada por alguém. Eu estava em pleno sonho, em
pleno encantamento quando tudo acabou. Foi um susto. Um baque! É como um pique
de energia no meio de uma festa e quando a luz volta não tem mais ninguém.
Faltou chão, faltou ar e novamente o meu coração ficou inundado da falta de
alguém. E foi pesado carregá-lo assim tão cheio de mágoas. E mais uma vez,
durante um bom tempo realizei todas aquelas tarefas que a vida nos impõe com o
coração carregado de dor.
E assim, durante
muitos anos eu andei carregando um peso maior que o meu. O do meu coração. Hora
cheio de alguém, hora cheio da falta de alguém.
Muitos anos se passaram,
muitas pessoas entraram no meu coração. Algumas estão até hoje, outros se foram
sem deixar nenhum sinal. E ainda tem aquelas pessoas que foram breves mas
deixaram rastros eternos. Idas e vindas de minha vida. Coração movimentado esse
meu!
Mas ainda que o
preço de amar seja esse, eu prefiro assim. Talvez eu tenha, em algum momento,
carregado peso demais. Talvez eu tenha carregado pessoas que já se haviam ido.
E muito provavelmente, em algum momento eu carreguei mais do que eu poderia
suportar. Mas vivi a alegria de ter um coração ativo. E sei que valeu a pena!
Hoje não conto mais
quem entra ou quem sai. Isso deixou de ser importante. Muito menos quanto tempo
ficou ou vai ficar. Abri as minhas portas e joguei as chaves fora. Afinal, se
são pássaros aqueles que às vezes dentro de nós se aportam que seja pelas suas
asas a decisão de ir ou ficar. Se ficarem, que eu não os feche em minha gaiola.
E quando se forem que eu não alimente as suas sombras.
Leila Rodrigues
Imagem da Internet
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 25/03/2014
Publicado no Jornal Agora Divinópolis em 25/03/2014
Conclusão sábia e bem madura e com o tempo aprendemos! Lindo sempre te ler! bjs,chica
ResponderExcluirUm texto que me levou a pensar que "amar é libertar e ser liberto". O respeito à individualidade é o que fortalece nosso emocional. Laços afetivos apertam-se ou afrouxam-se conforme o momento no palco de nossa vida. Obrigada pela reflexão.
ResponderExcluirAbraços.
Minha querida
ResponderExcluirAmar não é prender, é dar asas e se não voarem é porque se sentem bem no lugar que têm dentro de nós.
Um texto que nos faz voltar no tempo e recordar, momentos que foram eternos, mesmo que durando pouco tempo.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Leila
ResponderExcluirsuas palavras soaram-me na alma esse acróstico...
P orque ler-te é sublime, é suave
A lçamos voos que de tanta
L iberdade
A gente ama com intensidade, numa
V oracidade que o amor é carinho
R isos de quem sorri
A braçando a alma
S orrindo ante a leveza das suas palavras!
(Regilene Rodrigues Neves)
ResponderExcluirOlá Leila,
Que crônica mais linda!
Creio que nossa vida é assim mesmo, repleta de idas e vindas. Quando começamos a experimentar sentimentos intensos, torna-se difícil demais lidar com decepções e perdas ou chegadas e partidas. O tempo vai nos moldando, amadurecendo e acaba por nos ensinar que viver é assim e que mais vale o sentir intenso do que nada viver. O maior aprendizado que a vida nos oferece é exatamente de compreender que em nosso coração só permanece quem quer, por quanto tempo desejar e sem qualquer tipo de amarras. Quem ama, liberta.
O final de sua crônica encantou-me: "Afinal, se são pássaros aqueles que às vezes dentro de nós se aportam que seja pelas suas asas a decisão de ir ou ficar. Se ficarem, que eu não os feche em minha gaiola. E quando se forem que eu não alimente as suas sombras."
Feliz domingo e belos dias.
Beijo.
Putz tu demorou a postar amiga, mas voltou voltando mesmo, um texto que arrepiou e merece uma profunda reflexão. Um beijo enorme no coração.
ResponderExcluirLeila, quando se aprende a viver se entende o significado de deixar livres os sentimentos. Isso não significa que abolimos o sofrimento, mas que respeitamos, embora nem sempre entendamos, aqueles que optam por não ficar. Um belíssimo texto. Bjs.
ResponderExcluirLeila lindona!
ResponderExcluirBah!(interjeição gaúcha :)Penso que esse seja o melhor texto teu que já li! Por isso esse meu "bah!".
E como me vi nele...
Um coração movimentado, entrando e saindo pessoas, e também um coração cheio de ausências...
Texto maravilhoso, belo e sábio. Com um desfecho que reúne tudo isso. Uma porta sempre aberta sem as chaves, talvez seja mesmo o segredo da plenitude e da felicidade, deixar que entrem e saiam também. Assim conseguimos viver em sossego e permitir nosso voo próprio com ou sem escalas.
Grande beijo!
Já tinha visto o seu blog alguns dias atras, mas como estava impossível seguir, entrei e sair sem ao menos comentar. E agora o encontrei mais uma vez sem querer e não é que conseguir te seguir? Heheheh! para mim é um privilégio seguir o seu blog com uns textos tão lindos! Amei sua reflexão O que ñ podemos deixar é de amar, mesmo com algumas perdas.
ResponderExcluirBom finalzinho de Domingo pra vc
Leila.
Tudo se aprende, cada um tem sua história para fazer...
ResponderExcluirBeijo Lisette.
Olá, Leila. Que bom ler vc! Admirável sua forma de escrever. O texto é belissimo! A gente aprende com a maturidade. Neste texto tem um pouco de mim, não é muito fácil más aprendemos a viver. Bjosssssssss. Obrigada por partilhar! Linda semana.
ResponderExcluirLeila, um relato muito bom, contendo uma sábia mensagem, o jeito certo de amar é assim, fica quem quer, vai também que quer, nem por isso deixamos de amar, pois amar é fundamental, beijos Luconi
ResponderExcluirOlá, Leila.
ResponderExcluirO tempo e o coração costumam ser assíncronos, mas ambos nos regem o viver. Resolver essa equação é um dos grandes desafios da vida.
Um abração.
Que texto maravilhoso para ler e reler e sair com uma reflexão. Há uma mistura de tristeza, decepções,alegrias e ponderações da arte de viver. Figura de linguagem belamente inserida numa perfeita sintonia. Sinto uma alegria imensa quando leio um texto que mexe comigo, que faz repensar.
ResponderExcluirParabens Leila pois a vida sempre quer de nós este remexer nas coisas e delas apurar o que vale e o que nao vale.
Feliz inspiração amiga.
Meu carinhoso abraço de toda paz.
Oi, Leila, lembro que um dia disse aqui que você escreve maravilhosamente! Esse seu texto está impecável. Tão triste (as vezes) e tão cheio de sabedoria. Tão cheio de verdades nossas. No meio de seu texto deu uma vontade louca de lhe estender a mão! Acho que não preciso dizer mais nada, você, com toda essa sensibilidade, deve saber que você tocou muitos corações.
ResponderExcluirMeu carinho.