Mulher tem mania
de precisar. Basta ver uma vitrine de sapatos que precisa imediatamente de um.
É automático! Essa necessidade feminina é tão complexa que só falta a física
para tentar resolver, porque a psicologia e a neurologia juntas, não
conseguiram.
Mas o fato é
que, todos nós, homens e mulheres, estamos sempre precisando de algo. Além de
nossas necessidades diárias, claro! Basta trocar dois minutos de conversa com
qualquer pessoa e você vai ouvir, "preciso trocar meu carro", "preciso trocar o
óleo do meu carro", "preciso ir ao dentista", "preciso cortar o cabelo", "preciso
ligar para o fulano", "preciso retomar o inglês", "preciso tirar férias", "preciso
parar de fumar", "preciso fazer uma atividade física" ... preciso, preciso, preciso.
Precisar virou
meio de vida. Verbo transitivo direto para tudo aquilo que nos falta coragem de
começar. Sabemos que precisamos, mas não sabemos precisar.
Segundo o dicionário
precisar é ter necessidade de. E necessidade é uma aspiração natural. Mas aí eu
pergunto, será natural necessitar de um sapato novo toda vez que se deparar com
uma vitrine? Onde está a naturalidade em trocar o celular sempre que lançar um
novo modelo?
Se o novíssimo
modelo de celular cedeu seu lugar ao dentista, então "precisar" perdeu
completamente o sentido? O consumismo faz com que as verdadeiras necessidades
cedam seus lugares aos caprichos de cada um. E não estamos falando só de
adolescentes, pessoas fúteis, mal resolvidas e problemáticas. Estamos falando
de todos nós!
Precisamos de
muitas coisas e todas elas são necessidades reais. Mas deixamos todas as
"necessidades" de lado e avançamos direto para os nossos caprichos. Tornamo-nos
crianças, cada uma com sua birra particular pelo seu brinquedo favorito. Seja
ele um celular, uma bolsa ou um carro.
E na fila de
espera ficam o dentista, o pneu do carro, a caridade, o seguro de vida, a
atividade física e tantas outras precisões que elegemos, mas que sabemos que
não vamos investir tão cedo. Talvez estas fiquem aguardando na fila até o dia
em que precisar se torne desesperadamente o "não dou mais nem um passo
sem". Aí sim, vamos fazer o que for preciso.
Enquanto isso
continuaremos comprando sapatos, bolsas, celular, tablet. Até o dia em que o
dente doer ou o pneu do carro nos deixar na mão. Aí sim, vamos experimentar a
verdadeira necessidade. Aquela que já tinha sido esquecida na gaveta.
Leila Rodrigues
Imagem do
filme Delírios de Consumo com Beth Bloom