terça-feira, 28 de agosto de 2012

Resoluta




Olá pessoal,

Geralmente escolho as fotos que acompanharão os textos na hora de postar. O texto abaixo foi a minha primeira experiência de escrever a partir de uma foto. Depois deste vieram outros que postarei mais adiante. Mas este me marcou muito porque eu estava com meu filho quando ele fez a foto e me lembro de que o olhar da coruja ficou na minha cabeça até eu escrever. Até hoje quando vejo a foto, a primeira palavra que me vem à mente ainda é a mesma: RESOLUTA.

Boa leitura a todos!

Abraços


Leila Rodrigues


RESOLUTA


Não me olhe assim, com essa cara de espanto. Garanto a você, não é solidão. É apenas gosto pela minha própria companhia. Embora eu continue adorando a companhia dos amigos, da minha família, dos meus filhos e das pessoas queridas. Hoje gosto da minha companhia. Divirto-me com os outros, mas aprendi a me divertir comigo também.
Também não chame de pretensão. Não me sinto autossuficiente, não me tornei uma ilha. Ainda sinto medo, sinto falta das pessoas, sinto saudade como qualquer mortal. Tá certo que hoje sinto de um jeito diferente, mas te asseguro que a intensidade das minhas emoções continuam as mesmas.
Longe de ser desilusão. Ainda quero me iludir e me desiludir muitas vezes nesta vida. O amor não cria débito quando o outro se vai, pelo contrário, abre o espaço para mais amor, para outras e novas ilusões. E se houver desilusão? Que esta libere novos espaços em meu coração.
Não sei te responder se há um significado para o momento em que resolvemos experimentar a nós mesmos. Já tive momentos de experimentar tudo e eles não tiveram nenhuma classificação, nenhum significado oficial. Já experimentei as pessoas e já permiti que me experimentassem também. E nada disso foi anormal. Então por que experimentar a nós mesmos é tão inquietante para os outros? 
Estou apenas aqui neste lugar que eu escolhi com certeza e tranquilidade. Eu sei, a minha certa certeza te assusta, te deixa inseguro. Não fique, olhe-me novamente e veja o quanto estou seguro das minhas escolhas. Estou resoluto demais para temer a queda. Não tema por mim.
Não me faça perguntas por que eu não tenho nada a responder. Não me peça explicação porque eu não tenho nada a explicar. Deixe-me aqui. Eu estou muito bem. Eu me sinto seguro aqui. Eu escolhi este momento e este lugar. E nada pode ser melhor do que nossas escolhas.


Leila Rodrigues

Foto: Vinícius Costa (meu filho)

domingo, 12 de agosto de 2012

Gênio moderno








Olá pessoal,

Há poucos dias fui surpreendida com um comentário de um amigo que me disse que gostava dos meus textos, mas que eu estava me tornando uma pessoa séria demais. Foi bom ter ouvido, isso gerou reflexou sobre o assunto. Escrevo praticamente todos os dias. Costumo falar da vida, do cotidiano de todos nós, das relações. Mas o meu amigo tem razão, de vez em quando é bom dar vazão aos nossos sonhos e nos divertirmos um pouco... até nas palavras.
Boa leitura a todos, um feliz dia dos pais a todos os meus amigos-pais e ótima semana!

Grande abraço

Leila Rodrigues

 
Gênio moderno


Quando eu vi aquela fumaça no meio da sala, achei que era meu lustre novo caríssimo que estava pegando fogo. Corri para a cozinha para pegar água. Puro instinto de sobrevivência!  Mas a voz doce que saiu do meio da fumaça me paralisou por completo. Fiquei estática.
- Não precisa apavorar. Eu só quero ajudar.
- Ajudar com esta aparição bombástica? Precisa não meu filho! Olhe aqui! Aliás, olha não. Quem é você? Veio de onde? Está fazendo o quê aqui dentro da minha sala? Quem foi que abriu a porta para você?
Ele sorriu com tanta tranquilidade que eu me senti uma adolescente. O moço era moreno, nem gordo nem magro, na faixa dos 40, disposição de 20 e sorriso de 12.
- Eu sou seu gênio, vim realizar seu desejo.
- Gênio! Risos... Ridículo! E cadê a lâmpada? Eu não esfreguei nada?
- E que as coisas evoluíram. Na era digital eu saio do Ipad, as lâmpadas foram completamente abandonadas.
- Que pena! Era tão romântico! Mas a que veio mesmo? Satisfazer meus desejos? Eu ouvi bem?
- Ouviu quase bem. Vim satisfazer o seu desejo. Um desejo. Singular. Único e ponto final.
- Mas como assim, só um? Eu com uma lista de necessidades gigantesca, nunca cruzei com um gênio na minha vida, daí você aparece e me diz que pode realizar um desejo apenas? Ô miséria! Até nisso estão economizando agora é? Pense bem, não vamos nos ver nunca mais, eu não vou contar para ninguém...
- Nada disso! É um desejo e pronto! E escolhe rápido porque tenho que atender muita gente ainda. A fila esta enorme!
Naquela hora entrei em pânico! Nunca pensei que escolher fosse tão difícil! A minha cabeça rodava, todas as minhas vontades, dificuldades, especulações e pseudonecessidades entraram em profusão! Eu queria tudo! Como escolher uma coisa só? Pensei em pedir um carro, porque o meu já tinha dado o que tinha que dar, pensei em uma casa, uma cobertura no centro, uma viagem para a Europa, uma empregada nova, um closet abarrotado de novidades, um cheque bem gordo, uma barriga nova, ou melhor, uma não barriga. Superei minhas capacidades de tanto pensar e não cheguei a lugar nenhum.
Para ganhar tempo convidei o moço para um café. Conversa vai, conversa vem, descobri que ele também gosta de Johny River e consequentemente de dançar; que adora um carteado, lava e passa suas próprias roupas e que sabe fazer um macarrão com gorgonzola da melhor qualidade. E o melhor de tudo, ele não tinha segundas nem terceiras intenções. Somos amigos até hoje, inclusive ele é padrinho do meu filho mais novo.
O que foi que eu pedi? Ah claro! Quase me esqueço de contar! Na verdade não pedi nada. Não para mim. Pedi apenas para ele virar gente, afinal, homem com essas características não está fácil de encontrar! 

Leila Rodrigues
Imagen: http://arteemreciclagemflorartesanato.blogspot.com.br/

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre idas e vindas



Olá pessoal,

Estive fora por uns dias, aproveitando os poucos dias de férias dos meus filhos. De volta, prometo colocar em dia minhas visitas a todos os blogs parceiros.
Muito obrigada pelo carinho de todos e pelas felicitações pela nova jornada de trabalhos que estou iniciando.
Saibam todos vocês que eu também me divirto, me emociono, cresço, aprendo e enriqueço com as palavras maravilhosas de vocês. E ainda crio laços com pessoas incríveis. Alguns já viraram amigos, mesmo sem conhecer. E a indescritível sintonia que nos une está aqui, em nossas simples e despretensiosas palavras.

Obrigada a todos pelo carinho de sempre

Grande abraço

Leila Rodrigues



Largou. Os estudos, o namorado pobre, o curso de inglês e o anel de formatura já comprado pelos pais na gaveta do criado.
Mudou. Os cabelos, o jeito de andar, a cor do batom, as intenções, as pretensões e as canções do Ipod que comprou no camelô.
Aumentou. Os peitos, o salto, os cabelos (com mega hair), o decote, o rímel, o tamanho dos óculos escuros e o tamanho das unhas que agora eram de veludo.
Subiu. O morro da piteira, a barra da saia, a fé em si mesma, a febre dos meninos e a lista de coisas indispensáveis na sua bolsa.
Criou. Expectativa neles. Inveja nelas. Desejo em uns, desprezo em outras. Indiferença em todos e tristeza nos pais.
Comprou. O que tinha, o que não tinha, o que sempre quis ter, o nunca pensou em ter... E ainda comprou briga, porque não conseguiu pagar ninguém. 
Vendeu. O corpo, a confiança, os segredos do morro, os segredos do mundo. E ainda vendeu cosmético, bolsa, chapéu, sanduíche, churro, bala de hortelã.
Provou. De tudo, de todos, do líquido, gasoso e do solidificado. Provou ainda da ira das pessoas e da sua própria ira daquilo tudo que nunca lhe trouxe felicidade.
Subiu de novo. No palco, no ibope, no conceito deles todos, no salto fino, no foto shop (nesse ela adentrou).
Ganhou. Bilhões de acessos, milhões de flashes, centenas de seguidores, dezenas de interessados, cinco minutos de fama e nenhum amigo.
Provou de novo. O gosto da ressaca, a fome do dia seguinte, o fim dos efeitos, o apagão dos holofotes, o gosto amargo da verdade.
Caiu. No conceito. Caiu do salto. Caiu na vida. Caiu do castelo. Caiu a autoestima. Caiu a ficha. Caiu do morro como se fosse um saco de lixo que precisa ser descartado.
Passou. Por todos os becos, por todas as ruas, por todas as vergonhas e pela vontade de voltar.
Reencontrou. O caminho de casa, reencontrou os pais vendo TV no mesmo sofá e o pijama de bolinha guardado na gaveta.
Tomou um banho, tomou um café, tomou de volta o colo da mãe, tomou o sono de filha. Adormeceu...
Sonhou que amanhã tinha aula de inglês.

Leila Rodrigues