Se eu te
contar que moro em Bangladesch talvez tudo acabe por aqui mesmo. Não é verdade,
mas seria bem mais fácil. Pagaríamos a conta, ainda sorridentes e ao cruzar a
esquina deixaríamos este momento para trás. Eu não teria que pensar se amanhã
você iria me ligar ou não. Eu não teria que me preocupar em comprar um vestido
preto para te impressionar, porque os homens adoram vestidos pretos e eu não
tenho nenhum. Simplesmente ficaríamos aqui por mais algum tempo e sem a
pretensão de te agradar, eu te contaria como foi a minha viagem a Cuba, mesmo
sem saber se você tem algum interesse em Cuba.
Mas e se
eu te contar que aliso os meus cabelos, que tenho mania de dormir com o dedo no
ouvido e que gosto de acordar de madrugada para escrever, você vai sorrir e
achar tudo isso uma graça, porque tudo no começo tem graça, até a coisa mais
sem graça do mundo.
Embora o
seu sorriso me seja tão convidativo a continuar a conversa, ainda não decidi se
te conto ou não. Não sei se mudo o rumo dessa história a partir da página um,
ou se permito que ela se escreva do seu jeito. Talvez seja melhor contar de uma
vez, e assim não terei que trocar as minhas calcinhas beges gigantes e
confortabilíssimas por novas e minúsculas calcinhas pretas desconfortáveis. E
também não precisarei parar o meu tratamento noturno com creme de abacate no
rosto. E nas férias, não vou precisar procurar lugares românticos com chalés e
lareira. Menos trabalho.
Só vou te
ouvir mais um pouco, por que gostei quando você falou que tem o CD novo do Chico.
E também gostei da sua carteira fininha que não parece um tijolo partido ao
meio.
Você
nunca foi a Cuba, mas conhece a história melhor que eu que fiquei dois anos lá!
Ai meu Deus! Por favor, pare logo de me dar atenção, senão eu não vou conseguir
te contar os meus defeitos e amanhã toda vez que o telefone tocar eu vou querer
que seja você!
Aqui
estou eu fazendo a sinopse de um livro antes mesmo dele ser escrito. Repara
não, são os tombos da vida que fizeram isso comigo.
Será que
vou ter que começar a chorar aqui agora no meio do bar e dizer que sou
depressiva, desde os meus 13 anos, porque aí você para de ser lindo, para de
ser educado e vai embora de uma vez?
Pior de
tudo é que mesmo que eu pense isso a minha boca está me traindo! Ela não
consegue dizer quase nada a não ser sorrir.
Você nem
imagina, mas o meu cartão de crédito está estourado, preciso urgentemente
trocar os dois pneus do meu carro e amanhã eu pego o plantão às 07:00 da manhã.
Mas não sei por que fiquei feliz em saber que estivemos no mesmo show do Roger
Waters, embora um nem soubesse da existência do outro.
Que coisa
mais louca isso! Se eu deveria sair correndo a vontade passou e o tempo também.
Olha só, tem mais de três horas que estamos aqui conversando e eu nem vi o
tempo passar. Nossa, o bar já está fechando! E eu estou indo embora com a
sensação de que eu me esqueci de te contar alguma coisa!
Leila Rodrigues
Imagem retirada da internet
Meus caros,
Muito obrigada a todos que
estão torcendo pela recuperação da minha mão. Esta semana ainda continua
imobilizada, mas na próxima já devo estar liberada para digitar.
Para os que perguntaram o
que ouve, eu tive uma queimadura de 2º. Grau, mas estou me recuperando muito
bem, graças a Deus.
Grande abraço a todos,
obrigada pelo carinho
Beijos
Leila