Bateu a
porta e saiu. Deixou-a sozinha, encolhida no canto do sofá, com seu vestido de
flores desbotadas pelo dia-a-dia. Fez-se um grande silêncio. Um silêncio
ensurdecedor. Ela contou os ladrilhos, mediu-os sem desviar os olhos um só minuto
do chão. Ficou ali parada por um tempo que nunca soube medir.
Seus
olhos não choraram, sua alma estava completamente seca, árida como a terra que
ela deixou um dia para viver um grande amor. Tanta dedicação, tanto cuidado não
foi suficiente. Não foi o bastante. Era preciso se mover. Olhou ao seu redor. A
casa fria, os móveis velhos, simples, apenas os indispensáveis, assim como tudo
que foi vivido naquela casa. Apenas o indispensável, o necessário. E o amor
fecunda no dispensável, na sobra, no desnecessário e desmedido.
Experimentou
pisar no chão. Parecia flutuar. Era como se o chão não quisesse receber o seu
corpo. Na parede, seu Santo Expedito, empoeirado, não encontrou os seus olhos.
As
paredes encardidas, cálidas, pareciam dizer que não foi só ele que se foi; a
vida naquela casa se fora também. Não agora, não junto com ele, mas certamente
se fora. Olhou para a parede e procurou respostas para as perguntas as quais a
parede remetia. Sua cabeça ainda estava no timbre da porta batendo.
A dor de
quem fica do lado de cá da porta, cheira a prisão. Gaiola vazia. Libertar-se
fica mais difícil porque a sensação é que a liberdade é direito de quem foi e
não de quem fica. E ela havia ficado. Ficado com os restos, com as sobras, com
as histórias e memórias de uma relação que chegou ao fim.
Caminhou
até a varanda e olhou o tempo lá fora. Fechou vagarosamente a janela e depois a
cortina. Trancou a porta. Só lhe restara os móveis e as paredes pálidas.
No
intuito de arranjar imediatamente companhia, ela olhou tudo e
pensou: Vamos meus caros, ficamos apenas eu e vocês. Sofá, parede,
relógio, cômoda... Por hora vamos todos dormir, que a hora agora não é de
fazer. É preciso dormir. É preciso esquecer o som da porta batendo. É preciso
não fazer nada por algum tempo. Amanhã começaremos alguma coisa, qualquer
coisa. Algo que faça o tempo passar, algo que traga vida à minha vida e a este
lugar.
Olhou novamente
para a parede encardida, sorriu e pronunciou as primeiras palavras depois que a
porta bateu:
- Amanhã
lindinha, eu te pinto de verde! Será um bom começo!
Leila
Rodrigues
Publicado no Jornal Agora - Divinópolis MG em 06/03/2012
E pintou então com o verde da ESPERANÇA!!! LINDO! adorei! beijos,chica
ResponderExcluirÉ assim que se faz, amanhã é outro dia e a porta se abrirá a novos horizontes...
ResponderExcluirBelíssima e incentivadora crônica. Leila.
Um abraço,
da Lúcia
Na vida, como na Primavera, tudo renasce e se renova... até o amor! E quando se renasce é sempre mais forte esse renascer!!!
ResponderExcluirBeijos,
AL
Very good photo.
ResponderExcluirGreetings, Joop
Querida que belo texto.Dor, solidão e recomeço.
ResponderExcluirNada melhor que um dia após o outro para recomeçar trazendo em si o verde da esperança.
Escrevestes lindamente! Amei! Bjs no coração Eloah
Lindo texto! Adoro a maneira como escreves!
ResponderExcluirO recomeço dói, mas é necessário.
Um grande bj querida amiga
Boa noite minha amiga fidalga!
ResponderExcluirEstava com saudades de ti ...muitas,por isso que te vendo agora vim logo matar saudades...
Que andas fazendo por ai menina.mesmo sabendo que andas trabalhando muito.
Vejo um texto bem redigido,como sabes escrever muito bem.Chega a ser comovente...
bjs minha linda!!!!!!!!!!!!!!!!
Leila
ResponderExcluirMaravilhosa crônica.Só a dor da solidão para fazer acordar e tocar a vida em frente.
Em cada amanhecer mais um passo para dar e o bom recomeço é pincelar de verde.
Um lindo dia.
Bjs
Leila é um prazer e uma alegria te ler.
ResponderExcluirAmei a sua crônica.
Depois do luto..vem o renascer.
Adorei a cor verdinha das paredes.
Um beijo minha querida amiga!!!
Leila,essa é a mulher de hoje: não foge á luta!E vamos pintar a parede de verde e vamos viver!Um belo e comovente conto!bjs,
ResponderExcluirOi Leila,
ResponderExcluirMaravilha de texto! Leve e revigorante! Você descreveu a possibilidade do recomeço e que sempre há uma saída.
Essa semana escrevi sobre solidão e vendo o seu texto, penso que fui talvez um tanto bucólica e que não foi o meu objetivo.
Mais uma vez, lindo e intenso texto.
Beijos.
Lu
Leila, talentosa!
ResponderExcluirVocê escreve muito bem!
Fiquei pensando nos ciclos, do teu texto e os da vida, e tudo dá voltas mesmo, retorna ou se reinventa, e a possibilidade de darmos a volta por cima, quando o ciclo se fecha, é bem grande; e corrigir coisas, se precaver quando o ciclo esmorecer.
Beijos, linda!
Olá Leila!
ResponderExcluirA vida segue, tudo passa (precisa passar!), pois todo fim guarda um novo começo, um recomeço. Obrigado pela visita e comentário lá no Blog.
Um abração e um bom fim de semana.
Antonio (Apon)
ela ainda nao sabe, mas ele lhe deu a liberdade e um mundo de oportunidades. Lhe deu o empurrao para que ela se reinvente e procure a abundancia, o muito, o mais! Ainda bem que ele foi.
ResponderExcluirOi Leila!
ResponderExcluirComo é bom ler o que você escreve, experimentar do seu talento!
Tenho certeza de que ela pintou a parede de verde tão logo o dia amanheceu e até mesmo as flores desbotadas de seu vestido ganharam novas cores... A vida é assim, surpreendente. Quando nos parece faltar definitivamente o chão, é que descobrimos uma mola propulsora que nos leva de volta à superfície, abandonamos o abismo onde havíamos caído sem sequer percebermos. Se as paredes são pálidas, temos a opção de pintá-las, não é mesmo?
Lindo conto, pleno de verdades e realidades. Um beijo.
Visitando, conhecendo, gostei, fiquei, vou, volto.
ResponderExcluirNossa!
ResponderExcluirPra mim foi um chute no traseiro*, como dizem por aí... É bom ler essas histórias e perceber que todos têm momentos difíceis, mas que é preciso "aprender a esperar o dia seguinte", ter esperanças* por mais difícil que possa parecer...Amei!
Obrigada por compartilhares; foi muito bom te ler nesse momento, nesse dia*.
Beijinhos, amiga e tenha uma boa semana, Mery*
Adorei o texto!
ResponderExcluirAmanhã é outro dia...antes nao entendia essa coisa de amanhã, nao queria esperar o amanhã para resolver nada, mas com o tempo percebi que o amanhã é nescessario para o recomeço...existem situações em que o tempo eé preciso para recarregar baterias, para superar a dor, para alcalmar os nervos... Entao como dizia Scarlett O´Hara "Agora não posso pensar nisso, amanhã, amanhã eu penso nisso" ou algo assim rsrsr
Leila,passando para agradecer sua gentil visita e desejar uma boa semana!Adorei a ideia da sua avó que poetas são pássaros vestidos!...rss...Genial!bjs,
ResponderExcluirQue lindo! Bem escrito, sensível, encantador. A melancolia existe, mas a esperança não foi embora.
ResponderExcluir(Obrigada pelo carinho. Você é especial com as palavras).
Bjs.
Boa noite, querida amiga Leila.
ResponderExcluirBravo!!
Que maravilha de conto...
Menina, eu me vi dentro daquela casa encardida, o barulho da porta, o vazio.
Quem fica do lado de cá parece mesmo condenado à sofrer, enquanto quem sai, terá novos horizontes.
Pintar a parede é o primeiro grande passo. Vida nova!
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Tenha uma linda semana de paz.
Beijos.
Parabéns pelo teu cantinho.Amei! Bjs
ResponderExcluirUm recomeço,
ResponderExcluirPintar com verde,
Renovar as esperanças,
Um beijo
Buen final el de la historia. Saludos.
ResponderExcluirOlá Leila,
ResponderExcluirBem-vinda ao meu recanto!
Belo conto. Tão bem retratado em detalhes que acompanhei a cena.
Sim, amanhã é dia de recomeço. Os raios de sol voltarão a iluminar a vida dela. A esperança já se fez presente na escolha da cor verde
para as paredes. A vida é assim, feita de eternos recomeços.
Beijos.
Leila querida! Muito obrigada pelo carinho! Adorei o texto! Muito bem escrito! Sempre é tempo de recomeçar! Ótimo início de semana! Grande e carinhoso abraço!
ResponderExcluirElaine Averbuch Neves
http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/
Minha querida
ResponderExcluirUma dor muito real e bem contada que adorei ler.
E que o verde da esperança faça morada nessa casa.
Beijinho com carinho
Sonhadora
Os sonhos podem até morrer, mas a esperança sempre renasce, nem que seja começando pelas paredes.E não é que a gente fica assim mesmo, quando algo sai do nosso controle, quando somos surpreendidas, há esse olhar estático, há essa necessidade de animar o inanimado.
ResponderExcluirAdorei seu conto querida. Bom mesmo!
Beijokas doces e uma boa semana.
olá Leila
ResponderExcluirobrigado pela visita e pelo seu carinho
gosto de estar aqui.
beijos!!
Que a esperança seja sempre alimento da vida...da alma...dos sonhos...beijos de boa semana pra ti amiga.
ResponderExcluirLindo, inteligente, um conto q aprisiona aos leitores e isso é ótimo, pintura, pintar, apresentar-se novo(a) qtas vezes apenas isto renova e até inova relações, belo, pra vc linda poetiza bjos, bjos e bjossssssssssssssss
ResponderExcluirOlá,Leila!!
ResponderExcluirNunca é fácil para quem fica...parece uma eterna espera(mesmo não sendo.).
Mas que bela ideia ela teve, pra mim funciona!rsrs
O importante é tentar mudar alguma coisa, tentar começar, recomeçar!
Lindo o conto!
*Minha querida quero agradecer, por seres sempre tão gentil comigo!Muito obrigada!Que Deus te abençoe!
Beijos!Boa semana!
Um texto de muita qualidade, eu gostei bastante!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirDesejo uma semana maravilhosa pra vc!!!
Olá Leila,
ResponderExcluirBelo texto, amiga!
Mas senti tanta pena dela, que ficou a olhar as paredes, num mudo grito de amor. Seu texto tem tristeza e melancolia, mas retrata com clareza o que ocorre na realidade de tantos amores rompidos. O pior de tudo: o bater da porta, denotando que não há mais volta.
Obrigada pela visita la no blog.
Gosto muito quando você me dá o prazer e a honra de ler minhas postagens.
Paz e luz em seus dias, querida.
Grande beijo.
Maria Paraguassu.
Leila
ResponderExcluirGostei muito do conto, pois para quem gosta de arquitetura é o mominto ideal.
Eu sou muito preguiçosa, se achar tudo pronto eu acabo adorando.
Sabe que vou ficar mais perto de Divinopolis. Vou passar uma temporada em Oliveira.
O apartamento é de meu sobrinho. Em Uberlandia.
com carinho e amizade Monica
Um texto maravilhoso que adorei ler!
ResponderExcluirOi Leila, você também escreve muito bem.
ResponderExcluirEu faço de tudo um pouco, poemas, cartões e textos, tenho mais 2 blogs, quando quiser dar uma espiada fique á vontade, estão na lateral do Poetando.
Beijos e boa semana!
Obrigada, Leila, pela mensagem de ano novo no Ruas e papéis... Fiquei um tempão afastada, mas acho que vou fazer como a personagem do seu conto (muito bom)... vou começar pintando minhas paredes e fazê-lo revigorar.
ResponderExcluirSeu texto me fez bem.
Boa noite, bom dia!
Um abraço.
Olá, amiga Leila!
ResponderExcluirSeu conto é muito comovente.
Numa separação, a vida e tudo parecem mesmo frangalhos e cacos.
És ótima prosadora. Tens excelente domínio da narrativa e da linguagem.
Sabes usar muito bem as metáforas e os símbolos.
A decisão de pintar de verde o lar da protagonista conota esperança de uma vida melhor.
Parabéns pelo talento!
Abraços do novo amigo!
Lindo e criativo texto! Bela forma de recomeçar! Parabéns, linda. Muito grta por sua visita e comentário em meu Blog.
ResponderExcluirBjssssss
Leila,
ResponderExcluirÉ uma delicia ler tuas palavras... nelas me envolvo. E fico!
Beijos,
AL
Boa tarde, Leila. Muito bonito o seu texto.
ResponderExcluirUm amor quando termina sempre deixa profundas marcas, e somente o tempo é quem irá se encarregar de fazer um recomeço com a disposição de quem ficou, ainda muito perdida, sem chão, sem saber o que fazer.
Isso tudo certa hora passa, quando nem imaginamos, quando o nosso coração estiver aberto para o amor, ele será colocado ao nosso lado, e viveremos um ciclo novo, repleto de possibilidades felizes, e o que passou terá um lugar no nosso coração à nível de enriquecimento e aprendizado de vida.
Parabéns!
Um beijo na alma, e fique na paz!
Parabéns para nos que tanto carinho temos pelas nossas amizades
ResponderExcluirquantos vezes mesmo cansados procuramos de alguma forma acarinhar
nossos amigos(AS).
Na verdade ao longo do tempo fez nossa amizade crescer
hoje somos como irmãos .
Uma verdadeira nação de blogueiros unidos no amor.
Um beijo carinhoso pelo nosso dia.
Que muitos anos possamos comerar cada vez mais unido essa Dia.
Carinhos meus.Evanir..
Bebi, sofregamente, cada linha do seu conto.
ResponderExcluirSó posso dizer magnifico, envolvente com um final feliz.
Paragens.
Lindo seu blog!.
ResponderExcluirVoltarei para fazer outras visitas.
Já estou te seguindo bjs.
Estou encantada com este silêncio que fala e traduz tantas coisas e se simplifica numa porta verde. Excelente!
ResponderExcluirLi um comentário teu lá na Anne Lieri e resolvi conhecer teu blog. Adorei a porta de entrada. Beijo
ladodeforadocoracao.blogspot.com