sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Olhar



 



Na mira dos meus olhos
Encontrei os seus
Perdi o foco
Do resto
Dos outros
Dos olhos que olhavam ao meu redor

Dali pra frente só vi você!


Leila Rodrigues

sábado, 24 de setembro de 2011

Futuro Calculado


Quando adolescente eu calculava meu futuro. Pensava, me imaginava lá na frente, fazia alguns planos e depois saia para o mundo. Não que os meus planos ficassem na gaveta, mas eles nunca me incomodaram a ponto de me sufocar. Eu era capaz de tê-los e viver os momentos bons de toda jovem. Sair, namorar, viajar, enfim, acho que, com leveza, fui construindo o que seria então, meu futuro.
Porém, na tentativa de dar conta de todos os "recados" que a vida me trouxe, fui me tornando uma pessoa mais metódica. Hora para isso, dia de aquilo. Claro, hoje até nossas crianças de 6 anos tem agenda para cumprir.  Faz parte do dia-a-dia de todos nós termos compromissos e obviamente agendá-los. Talvez o problema seja este mesmo "agenda".
O fato é que agendamos tão bem nossos dias, semanas, meses e anos que não paramos para observar alguns problemas graves que decorrem desse fato: O primeiro é que, enquanto estamos pensando no daqui a pouco, esquecemos o agora. Tomamos café da manhã, pensando em como será a manhã de trabalho; enquanto levamos o filho na escola, traçamos o caminho de volta e todos os lugares que temos que passar. Raramente estamos concentrados no momento presente. Fazemos as coisas tão mecanicamente, que não conseguimos mensurar o sabor das nossas atitudes.
Outro problema decorrente é que, qualquer anormalidade nesta agenda traçada em nossa cabeça, é capaz de arruinar com nossos dias ou noites. Temos paciência zero para sair do quadrado. O pior é que dizemos em alto e bom tom que adaptar-se às mudanças é a chave do sucesso. Como assim? Se não somos capazes de entender um desvio no trânsito ou um chuveiro que estraga dentro da nossa própria casa?
E nessa de planejarmos demais, ainda enxergo mais uma crueldade que fazemos conosco. Onde foram parar as surpresas da vida? Sumiram! Está tudo tão planejado que surpresas não existem mais. Encontros inesperados, aniversário surpresa, surpreender o parceiro ou a parceira com uma algo diferente?! Ah! Isso já ficou demodê!
Estamos ficando velhos? Sim, claro! Isso é um fato, todos nós estamos, até quem nasceu ontem. Mas acho que, enquanto gastamos uma energia gigantesca tentando retardar a velhice do corpo, avançamos na mesma proporção atraindo a velhice da alma.

Leila Rodrigues


Este texto foi publicado no dia 20/09, Jornal Agora (Divinópolis), o qual, passei a ser mais uma colaboradora. Meus textos são publicados toda terça-feira.
Obrigada à direção do jornal, pela oportunidade e a todos os leitores pela atenção às minhas palavras.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Faz parte

Hoje eu vou me recolher mais cedo
Vou recolher meus cacos e juntar-me num canto qualquer
Vou ocupar apenas o espaço de mim mesmo
Hoje lugar nenhum me coube
A paisagem saiu do foco
O vento soprou para o lado de lá

Hoje o meu lado sombra escureceu meu lado luz
Levou consigo o meu calor
Deixou em mim essa grande dor
Hoje eu devia ter pulado a página
Hoje eu quero sair ontem e só voltar amanhã

Leila Rodrigues


Queridos leitores, seguidores e amigos da blogsfera,

peço desculpas pela minha falta de visita a todos vocês. Prometo colocar minhas visitas em dia, assim que tiver condições. Optei por cumprir meu compromisso de postar. Obrigado àqueles que, mesmo não recebendo a minha visita em seus blogs, passaram por aqui.
Um abraço

Leila

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma declaração silenciosa de amor

É mania pura, mas ela só conseguia ir para a cama, depois de se certificar de que todos os filhos estavam, pelo menos, em seus quartos e de pijama. Ainda checava o gás, as janelas, a porta da geladeira e aí sim, ia para a cama. Sim, só para a cama, porque dormir para ela era muito difícil. Significava desligar e isso ela tinha muita dificuldade. Acho que tinha medo de desligar e depois não ligar mais, igual a máquina de lavar. Deve ser isso!
Já era tarde. A cidade dormia, todos dormiam. Inclusive ele (o marido) ali bem do seu lado. Dormia sossegadamente. Ela ouve o seu ronco que a acompanha há tantos anos. São tantos anos que já virou um soneto aos seus ouvidos. Olha para ele dormindo. Observa seu perfil, seus contornos. E no silêncio absoluto daquele quarto, sem que se tenha planejado dizer, palavras lhe surgem da alma:
- Eu continuo amando você! Sim, eu o amo. Você e todo o pacote. Amo o homem que conheci um dia e tudo mais que você adquiriu ou transformou ao longo desses anos. Amo as suas conquistas, suas evoluções e melhorias em tantos aspectos. Em contrapartida continuo odiando na mesma proporção os seus defeitos. Odeio tanto que acho que já virou amor.
 - Amo a sua diferença de mim, por mais que seja difícil conviver com ela. Amo as nossas "coisinhas" comuns, aquelas que guardamos só para nós dois. São palavras, gestos, jeitos, formas, enfim, atitudes tão nossas, tão únicas de nós dois que descrevê-las não justifica, uma vez que o mundo não as compreenderia como nós. Essas são as verdadeiras alianças da nossa união.
 - Assim dormindo você está tão diferente. Tranquilo! Sabe que eu continuo te achando bonito? Mesmo com menos cabelo, com mais barriga, com menos ou com mais qualquer coisa...
 - Eu poderia  te dizer tudo isso à luz do dia, olho no olho. Eu sei. Mas desta vez eu estou falando é para mim mesma. Digamos que, desta vez, eu quis dizer primeiro para mim, para então, depois, executar para você. Executar o meu amor por você, no dia a dia de nós dois.
 - Você continua aí dormindo. Morro de inveja desse seu sono! Penso se te acordo ou não? Penso em te acordar com meus beijos. Em passear as minhas mãos por você. Imagino uma sessão avassaladora do mais puro sexo, depois umas colheradas de creme de avelã, nossas risadas de sempre e dormir.  Imagino... Imagino... Imagino... Sinto que vou te dar trabalho!
... Olha o despertador e lembra que amanhã é quarta-feira. Decide então deixá-lo dormir. Se enrosca nele e dorme também.

Leila Rodrigues

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Solidão

Solidão não é chegar numa casa vazia.
É ninguém perguntar como foi a viagem
Solidão não é dormir sozinho
É dormir separados na mesma cama
Solidão não é falta de alguém
É o excesso de ninguém

Solidão é ter que pedir para ser ouvido
É ter que gritar para ser percebido
É ter que morrer para ser lembrado.

Solidão é estar rodeado de gente
E ainda assim chorar sozinho 
Solidão não é a falta de você
É ausência de mim

Leila Rodrigues

Acróstico - Ganhei de presente da amiga Regilene


L endo você fui
E nvolvendo-me na gostosa brincadeira
I nspirada na criança da sua alma cheia de alegria.
L i sobre a Leila escritora
A felicidade de cada um e li a sua felicidade...

R aízes narrando sua rica infância
O nde a felicidade era feita de simplicidade...
D entro de cinco minutos
R epassa a rotina e o tempo de se encontrar
I nformações de todo um cotidiano...
G ritando na alma
U m aprendiz querendo seguir como
E terna criança aprendendo por aí...
S egui lendo e PALAVRAS transbordaram dentro de mim



Homenagens não precisam, necessariamente de platéia, necessariamente de troféus, necessariamente de aplausos.
Homenagens  precisam apenas ser sinceras, vindas do fundo do coração!
E será o bastante para fazer um coração feliz!

Obrigada Regilene, pelo carinho, pela amizade, pelas belíssimas palavras!

Leila Rodrigues

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Efeito cascata

Chegou do trabalho. Entrou no banheiro. Ligou o chuveiro. Deixou-se limpar. Cantou Bob Marley. Lavou os cabelos. Dançou pelo quarto. Vestiu-se de preto.  Passou seu batom. Olhou-se no espelho. Se achou toda linda. Sorriu com malícia. Vestiu seu perfume. Jogou a toalha. Saiu pra dançar. 
Chegou decidida. Sentou no sofá. Pediu uma dose. Bebeu mais que três. Achou tudo lindo. Gostou de si mesma. Gostou dos demais. Expôs seu decote. Expôs seu sorriso. Calculou  olhares. Decidiu dançar.
Mexeu os quadris. Ergueu os seus braços. Girou sua cintura. Chamou com olhar. Sorriu novamente. Mordeu os lábios. Mexeu nos cabelos. Tornou a sentar.
Sentiu-se olhada. Senti-se querida. Sentiu-se molhada. Bebeu mais um gole. Olhou novamente. Se fez presente. Mostrou-se quente. Lembrou das horas. Esqueceu o dia. Aceitou o convite. Voltou a dançar.
Tocou sutilmente. Sorriu displicente. Dançou no compasso. Aceitou o abraço. Olhou sem temer. Provou sem beber. Beijou lentamente. Deixou se beijar.
Falou de si mesma. Ouviu outras falas. Riu de vergonha. Riu de verdade. Dançou de cansar. Cansou de falar. Ficou em silêncio. Respirou junto. Aceitou o compasso. Contou do cansaço. Deixou se levar.
Andou de mãos dadas. Tirou o sapato. Sorriu de vergonha. Parou na pracinha. Comeu um sanduba. Bebeu um refri. Sentiu frio. Pediu abraço. Dividiu o chiclete.
Parou no portão. Brincou de sussurro. Beijou-lhe na boca. Aceitou suas mãos. Perdeu-se no abraço. Criou um laço. 
Despediu-se ali. Preferiu assim. Deixou telefone. Pediu pra ligar. Sentiu-se antiquada. Resolveu enfrentar. Subiu as escadas. Entrou em casa. Sorriu no espelho. Lembrou-se de tudo. Quis continuar. 
Acordou cedo. Teve saudade. Aprontou rapidinho. Foi trabalhar. Leu seus emails. Sorriu para um deles. Gostou do que leu: Quero continuar!

Leila Rodrigues

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Brincadeira


_        Vamos brincar de alguma coisa?
_        Como assim? Brincar? Brincar de quê?
_        Ah! De qualquer coisa. Eu quero brincar!
_        Mas nós somos adultos!
_        E daí? Existe alguma lei que proíba o adulto de brincar?
_        Não. Lei não existe, mas é esquisito!
_        Esquisito pode ser, mas não é proibido.
_        Mas, por quê brincar?
_        Porque preciso.
_        Precisa brincar? Ora, você precisa mesmo é trabalhar. São 07:15 da manhã e você já está atrasado.
_        Dane-se, hoje eu só saio desta cama depois que você brincar comigo.
_        Tá bom eu brinco. Eu sou Rapunzel!
_        E eu Peter Pan!
_        Mas eles nem se conheceram??!!
_        Problema não, essa história é nova mesmo.
_        Mas meu cabelo é curto?
_        Hoje existe aplique é para isso.
_        Mudei de idéia, eu serei a Sininho.
_        E eu continuo sendo o Peter Pan.
_        Eu quero voar com você pelo céu estrelado, num cavalo alado.
_        Então bate suas asas, esqueceu que a Sininho voa?
_        Ô falta de romance, nem sabe brincar!
_        Tá bom, te levo comigo.
_        Ah e eu também quero dar uma passadinha em Marte, de bicicleta e encostar meu dedo num ET. Fazer contato.
_        Assistiu filme demais!
_        Você é velho mesmo, chamou pra brincar, agora taí, me podando! Mudei de idéia, eu serei a “noiva do cowboy”  que sempre sonhei.
_        E eu prometo não sumir no mundo sem te avisar.
_        Se você fizer isso eu viro a Maga Patalógica e te transformo num sapo
_        E eu serei beijado pela princesa!
_        Coitada! Vai se decepcionar de cara!
_        Ciumenta!
_        Sai da brincadeira.
_        E eu estou atrasado ...


Leila Rodrigues, para todas as crianças grandes que eu convivo e que fazem o meu mundo mais divertido.